domingo, 5 de junho de 2011

Soulmates Never Die ~ 7º capítulo

- Estás nervosa, priminha?
- Não sejas ridícula, Dádá.
- Então por que é estás a agarrar-te assim às tuas próprias mãos que ainda as vais fazer sangrar, senão parares de fincar as unhas nelas?
- Como eu já disse, não sejas ridícula, Dadá.
- Hum-hum. Pois-pois. Olha viste aquilo?! – disse a minha prima em choque.
- O quê?
- O Javi está no chão a queixar-se do joelho!
- O QUÊ?! NÃO PODE! – exclamei ao aproximar-me mais para ver melhor. Quando o vi em perfeita condições a disputar a bola com outro jogador do Sporting, virei-me para a minha prima com vontade de a espancar.
- Mas que piada, Dádá.
A minha prima começou a rir-se, sem aguentar mais por ver as minhas figuras tristes.
- O André está a comportar-se bem. – comentou a minha prima.
- Como sempre.
O jogo decorria sem muitas faltas e sem golos.
- Estás a pensar em dizer-lhe a verdade, Marisca?
- Dizer-lhe a verdade? Qual verdade? E a quem, já agora?
- Tens de parar de mentir a ti própria. Sabes que gostas do Javi.
- Mas que raio de conversa é esta?!
- É a conversa que precisas de ouvir. Para se ser teimosa e orgulhosa. Sabes que gostas dele e ele também gosta de ti.
- Eu não gosto dele e ele também não gosta de mim. Ponto final. Parágrafo!
Dalila abanou a cabeça.
Concentrei-me no jogo. Quando dei por ele, o Sporting tinha marco o primeiro golo da partida.
- Mas... o que aconteceu?! – perguntei, chocada.
- O Yannick Djálo marcou um golo na baliza do Roberto.
- A sério?! – perguntei, sarcástica.
Senti que o meio-campo do Benfica estava muito desprotegido.
De onde nos encontravamos, eu e Dalila até conseguiamos ouvir os berros de Jorge Jesus. Ele gritava por um nome claramente distinto dos outros.
O erro do meio-campo era do Espanhol.
Passados 20 minutos, Cardozo marca um golo.
Aos 15 minutos para o final da segunda parte, Pedro Mendes passa para André Santos que tentava fintar o Espanhol. Conseguiu correr com a bola e agora preparava-se para rematar fortemente à baliza, mas o Espanhol aparece ao lado de André e desliza no chão ao tentar afastar a bola dos pés de André. Com um pé, o Espanhol tirou a bola dos seus pés e com o outro, atingiu brutalmente o joelho de André.
As bancadas estavam em euforia. Começaram a assobiar.
O árbitro correu para junto de André Santos que estava no chão, cheio de dores. Deu cartão vermelho ao Espanhol e mandou entrar em campo os médicos. Com grande rapidez, pusseram-lhe gelo, mas André continuava sem se poder mover. Parecia que chorava com dores.
O meu coração congelou nesse momento e estilhaçou-se em pequeninos pedaços, quando André saiu do campo numa maca, desmaiado.
O meu cérebro racional começou a trabalhar apressadamente.
- Dalila, vai para casa antes do jogo acabar. É mais seguro. Eu vou ver como está o André.
- Está bem. Está bem. Queres que vá contigo?
- Não é preciso, priminha. – dei-lhe um beijinho na bochecha e desci as bancadas a correr.
Entrei no Balneário do Sporting.
- André? – interroguei imensas vezes, quando afastava os médicos e especialistas. – Como é que ele está, Doutor?
- Quem é a menina?
- Chamo-me Mariza Ventura e sou a melhor amiga do André.
- Como é que entrou aqui?
- O Sr. Félix já me conhece. – referindo-me ao Guarda-costas dos Balneários.
- Ficamos mais descansados, assim.
- Pois, mas eu ainda não estou. Como é que ele está? – perguntei novamente, ajoelhando-me no chão ao segurar a mão de André, ainda inconsciente deitado na cama.
- Tem uma lessão no joelho. Não sabemos o quão grave é, mas amanhã faremos exames e assim saberemos o seu estado de gravidade.
- Muito bem, Doutor. Vai levá-lo ao hospital?
- É melhor.
- Se assim o acha. Posso acompanhá-lo?
- Claro.
- Obrigada. – procurei o meu teemóvel no bolso das jeans pretas.
Procurei o número de telemóvel da mãe de André. Comuniquei-lhe o sucedido e disse-lhe que o íamos levar ao Hospital.
Muitos dos médicos abandonaram o Balneário.
O Doutor estava ao telemóvel, devia estar a pedir uma ambulância.
Olhei para o ecrã do meu telemóvel; o jogo já tinha acabado à cinco minutos. Dei um beijo na mão de André e levantei-me.
- Eu já volto, Doutor. Não se vá embora até eu chegar, está bem?
- Combinado.
- Obrigada. – e saí do balneário do Sporting.
Pedi a Félix que me indicasse o caminho para o Balneário do Benfica.
Andava de um lado para o outro à espera que alguém saísse de lá.
Finalmente e seguidos dosoutros jogadores do Benfica, o Espanhol saiu.
Ficou surpreendido por me ver lá, à sua espera.
- POR ACASO SABES O QUE É QUE FIZESTE?
- Lo siento mucho. – disse, sem conseguir fitar-me.
- “Lo siento”? É só isso que consegues dizer? Tu. Lessionaste. O André. O teu amigo! Como podeste?!
- Mariza. Lo siento, de verdad.Estoy muy confundido. No sé qué hacer. No sé lo que está bien y qué está mal. – abanando a cabeça ao enrugar e testa. Ele estava mal-disposto, sem paciência, mal-humorado. – Por favor, déjame pasar.
- Não deixo, não senhor! Se estás com problemas e precisas de desabafar, eu sou uma boa ouvinte e dou bons concelhos. Por isso, fala, Espanhol!
- Nadie me puede ayudar. Soy yo quien debe resolver las cosas.
Pousei a minha mão no seu ombro, dando-lhe apoio.
- Diz-me o que se passa.
- Tú sólo empeoras las cosas.
- Eu?! Então, agora a culpa é minha?!
- No. Sí. No.
- Em que ficamos? Sim ou não?
- No puedes ayudarme.
- Porquê? Achas que sou demasiado criança, é isso?
- Tú? Ninã? Eres una mujer.
Aproximei-me dele, agressiva.
- Então, faz-me sentir como tal.
O meu peito enchia-se e esvaziava-se muito depressa.
Os nossos corpos estavam muito próximos.
Olhavamos para os olhos e lábios um do outro.
- Por favor, no... – disse o Espanhol, mas sem forças.
Fechei os olhos à espera que os seus lábios tocassem nos meus.
Tal, não aconteceu.
- Mariza Ventura? Está aqui? Procurei-a por todo o lado. – afirmou o Doutor. – A ambulância chegou.
Os meus pés aterraram no chão, pois estava em biquinhos de pés.
Olhei para a T-shirt do Espanhol e virei-me para o Doutor.
- Obrigada por me informar. Vou já a caminho.
O Doutor acenou com a cabeça e rumou corredor a fora.
Suspirei.
- Xau. – virei-lhe as costas, mas recuei no momento a seguir.
O Espanhol prendeu-me o braço.
- Larga-me! – ordenei.
- Vas con André en el Hospital?
- Se me largares, vou.
- Voy a llevarte allí.
- Não é preciso, obrigada.
- Por favor, no seas obstinada.
- A questão aqui não se trata de eu ser ou não teimosa. A questão é que tu lessionaste o meu melhor amigo e eu vejo que estás com problemas e eu quero-te ajudar, mas tu não me deixas. Agora, larga-me.
O Espanhol largou-me.
- Bueno, te diré.
- Finalmente!
- Es mi chica.
Tentei que ele não se aperceber-se que eu fiquei incómodada.
- O que se passa com ela?
- Ella... yo no la amo, pero ella no entiende eso.
- Se não a amas, porque estás com ela?
- Pensé que la amaba, pero ahora...
- Agora o quê?
- Ahora es todo muy complicado. – disse, triste.
- Sabes que podes sempre contar comigo?
- Sí, peso qué sí.
Sorri-lhe.
- Peço desculpa, mas vou ter de ir. – afastando-me.
- Dejo que te lleve.
- Como já disse, não é necessário. Depois falamos.
- Muy bien, lo que sea.
- Fica bem e não faças disparates.
- Tú también.
Corri pelo corredor, até que encontrei o Doutor. Já estavam a levar o André para a ambulância numa maca.
Sentei-me perto de André que estava a dormir. O Doutor disse que ele estava consciente, apenas estava cansado, por isso, dormia.
Conseguia ouvir a música que passava na rádio: Quando a Chuva Passar de Ivete Sangalo. Revirei os olhos ao notar a situação presente e a música.
Por acaso, lá fora, estava a chover.
(...)
- Menina? – ouvi alguém a abanar-me o braço.
Acordei, sobressaltada. Olhei em redor. Estava numa cadeira, mas toda debruçada sobre a cama onde André dormia.
- Como é que ele está?
A enfermeira loirinha fitou-me.
- Sente-se bem? Parece cansada. Quer que lhe arranje uma cama?
- Oh nem pensar. Como é que ele está?
- Está a dormir. Dentro em breve, temos de o acordar para lhe fazermos os exames.
- E quando é que têm o resultado dos exames?
- Por volta do final da tarde.
Suspirei, aborrecida.
- Tanto tempo.
- Vai ver que passa num instante. Agora se não se importa, pode sair, por favor?
- O que lhe vão fazer?
- Os relatórios para o Doutor.
- Ah, pois. Com certeza. Quando souber de alguma coisa, avisa-me?
- Claro. Aguarde na sala.
Acenei com a cabeça e saí do quarto, após ter feito uma festinha na cara pálida de André.
Fui para a sala de espera, meia a cambaliar para os lados.
Estavam lá três pessoas, mas uma dela, saltou-me à vista.
Semicerrei os olhos, ensonados.
- O que estás aqui a fazer?
- He estado aquí toda la noche esperando.
- És louco. – disse ao sentar-me ao lado do Espanhol.
- Noticias?
- Escorraçaram-me do quarto, porque vão fazer relatórios para o Doutor. Depois vão fazer-lhe exames e à tarde sabemos os resultados.
- Demasiado tarde.
- Foi o que eu disse à enfermeira.
Afastei o cabelo para trás.
- Perdóname.
- Eu já percebi que estás stressado com a tua namorada e assim, pronto. Foi um acidente.
- Sí, es certo.
- O que importa agora é que o André recupere rapidamente.
- De acuerdo.
- Sabes que horas são?
O Espanhol olhou para o ecrã do seu telemóvel.
- Son las diez.
Abri bem os olhos.
- Devia estar na escola.
- No es capaces de ir a la escuela.
- Por que não?
- Te ves muy cansado. Hay qué ir a dormir.
- Não é preciso, eu aguento-me.
- Y si te llevo a casa a dormir en la tarde y regreso al hospital?
Olhei-o. Não era má ideia.
- Está bem, parece-me uma ideia sensata.
Ele sorriu, com os olhos a brilharem.
Saímos do hospital depois de eu dizer às enfermeiras que voltávamos à tarde.
Saímos para a rua e o Espanhol encaminhou-me para um BMW preto reluzente.
- WOW!
- Qué pasa? – perguntou ele, virando-se para mim, curioso.
- Este é o teu carro?
- Sí, por qué?
- É... um espanto!
Ele riu-se.
- No suelo andar en día con este coche.
- Então andas com qual?
- Con un Audi blanco.
- Outro espanto!
Ele abriu-me a porta do lado do condutor e eu entrei. Fechou-me a porta e entrou no carro.
Mas quem é que andava de dia com um Audi branco e à noite com um BMW preto?! Ah, espera, o Espanhol andava (eheh).
Indiquei-lhe o caminho para a Quinta da Piedade.
Procurava uma música decente no rádio.
Finalmente, encontrei uma boa: Wonderful Life de HURTS.
Comecei a cantarolar.
- Don’t let go. Never give up, it’s such a wonderful life.
Notei que o Espanhol me fitava.
- O que foi?
- Cantas bien. También me gusta esta canción.
- Obrigada. Gosto bastante do ritmo dela e a letra também é importante.
- De acuerdo. Nunca debe darse por vencido.
- Apoiado.
- Y autoconfianza es el primer secreto del éxito.
Olhei para ele.
- Também concordo.
- Cuáles son tus bandas y cantantes favoritas?
- Oh! O meu cantor preferido é o Bob Marley. Também gosto muito da Madonna. Os Coldplay, The Police e Tribalistas são as minhas bandas preferidas.
- Sé que todos, excepto el Tribalistas.
- São brasileiros.
- Ah.
- E tu?
- Me gusta escuchar a la música espanõla.
- Pois, claro. Deves gostar de ouvir a Shakira.
- Sí, un poco.
- Acho que ela agora namora com o Piqué.
- Sí, es verdad.
- Conhece-lo?
- Sí, la selección española.
- Ah, pois é.
(...)
O Espanhol estacionou o carro no parque.
Começámos a subir a escadaria que dava lugar às diversas entradas para os prédios baixos. Procurei as chaves no bolso, um pouco atrapalhada.
Era a primeira vez que trazia à minha casa um rapaz (sem contar com o André, é claro, que era como se já fizesse parte da mobília).
Enfiei a chave na fechadura e rodei. Limpei os pés e entrei.
Pus as chaves na cómoda do wall de entrada e olhei para a porta.
- Entra. – disse, tímida.
- Gracias.
Okay... respira fundo. Acabou de entrar um jogador de futebol Espanhol, lindo, comprometido, que lessionou o meu melhor amigo. Calma...
- Entra aí na sala que eu vou só buscar um copo de água. – para ver se me acalmo. – Queres tomar alguma coisa?
- No-no. Gracias.
Entrei na cozinha e enchi um copo com água fresquinha. Bebi apressadamente. Dirigi-me à sala de estar. Esbugalhei os olhos, quando vi o Espanhol e olhar para o armário de vidro.
- Medallas. – afirmou ele. Fiquei sem pinga de sangue na cara.
- Sim, pois são. – disse ao aproximar-me dele.
- Si el suyo?
Mordi o lábio. Pensei em mentir, mas não o fiz.
- Sim. – suspirei. – São minhas.
- Tienes tantas. Estas medallas demostran su valía.
- Não, elas demonstram um passado que não quero relembar.
- Por qué no?
- É... complicado.
- Dime. – quando viu que não estava muito disposta para lhe contar, disse: - Ya te dije sobre mi relación, por lo que también pudes decirme.
Suspirei, derrotada.
- Estas medalhas fazem lembrar-me de como eu era, quando tinha uma família reunida que me amava. E, essas lembranças já não perduram no presente. A minha mãe era uma nadadora brilhante, quando era nova também ganhou várias medalhas de ouro em Campeonatos Nacionais.
Quando fez 30 anos, decidiu parar a carreira, por isso, iniciou carreira de nadadora-salvadora. Eu tinha 14 anos, quando ela faleceu numa praia ao salvar a vida de uma mãe e filha.
O Espanhol parecia chocado, preocupado e triste.
- Agora, o meu pai está na Inglaterra com a minha madrasta, que por acaso era colega da minha mãe. Eu estava na praia onde ela trabalhava no dia em que a minha vida deu uma volta de 180 graus. Eu vi tudo. Queria socorrê-la, pois nessa altura já sabia nadar muito bem e já tinha ganho todas estas medalhas. Mas a Juliet – a minha madrasta – não me deixou, por isso fiquei a observar a cara da minha mãe no momento em que foi engolida pela gigante onda. Só passados alguns meses após a sua morte, é que eu percebi que o pai já não a amava e este, foi o momento certo para voltar a casar e partir de Portugal. Assim, deixou-me aqui na guarda dos meus tios paternos. – concluí com lágrimas nos olhos. Nunca tinha contado a minha vida assim a uma pessoa. Nunca.
O Espanhol endireitou os meus ombros e abraçou-me.
- Perdón, Mariza.
- Não me peças desculpa. – murmurava contra o seu peito. – A culpa não é tua. Nem minha. A culpa não é de ninguém.
Ele fazia-me festinhas no cabelo. Eu apenas lhe rodeei as costas com os meus braços. Ficámos assim, durante um pouco.
- Bueno, debes descansar. Yo vengo recogerlo más tarde para ir al hospital.
- Não, espera. Fica comigo. – pedi-lhe, com voz terna.
Sem pensar, dei-lhe a mão, encaminhando-o para o meu quarto.
Entrámos e eu fechei um pouco os cortinados.
- La prática de ballet?
Olhei para ele; vi que mirava as minhas sapatilhas de Ballet presas num pequenino prego que furava a parede branca.
- Pratiquei durante cinco anos, quando era mais pequena.
Também o vi a percorrer com os olhos as minhas diversas estantes de CD’s, filmes, livros e Enciclopédias. Programei o meu despertador para as 16 horas – antes da tia Madalena voltar da mercearia.
Deitei-me em cima da colcha branca decorada com várias flores pretas.
Olhei para o Espanhol.
- Há aqui espaço para mais um, Espanhol.
Ele sorriu e ladeou-me na cama.
- Por qué me llamas “Español” ? Tienes algo en contra de los Españoles?
- Não posso falar muito sobre isso, pois só conheço um, mas esse que conheço parace-me muito simpático.
- Así, gracias a Dios.
Abanei a cabeça, rindo-me. Fechei os olhos à espera que o sono tomasse conta de mim.
- Javi? – inquiri de olhos fechados. Disse, então, pela primeira vez o seu nome.
- Sí?
- Obrigada.
- Gracias por qué?
- Por seres como és.
Senti-o sorrir. Passados poucos minutos, adormeci.

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