domingo, 5 de junho de 2011

Soulmates Never Die ~ 5º capítulo

- Emprestas-me o teu isqueiro? – perguntei ao rapaz todo giraço que fumava perto do local onde me encontrava. Estava no portão da minha escola à espera da minha prima, pois tinhamos combinado uma tarde inteira no Vasco da Gama.
O rapaz olhou para baixo – era mais alto do que eu – e fitou-me.
Tinha uns olhos de uma cor muito bonita, quase pareciam amarelos e a cor do seu cabelo também se assemelhava à dos olhos.
As suas costas eram mesmo largas, parecia um jogador de basquetebol ou assim. Conclusão? Era mesmo muito giro.
- Claro. – levou a mão ao bolso das jeans e trouxe-me o isqueiro.
- Obrigada. – levei o isqueiro ao cigarro que tinha no boca. Afastei o fumo para o outro lado. Devolvi o isqueiro preto. Reparei que o rapaz estava a olhar para mim. Fitei-o de lado.
- O que foi?
- Não te lembras de mim, pois não?
Franzi as sobrancelhas.
- Conhecemo-nos?
- Claro. 7ºe 8º ano. Sou o Ricardo Mendes.
Ricardo Mendes?! Não admira que o achasse giro. Tive apaixonada por ele durante três anos sem nunca lhe dizer. Tentei recompôr-me.
- Oh o Ricardo. Sim-sim já me lembro de ti. Como vai a vidinha, hum?
- Escola, estudar, sair com amigos, jogar futebol, etc. E tu?
- O mesmo.
Continuei a fumar o meu cigarro; ele já tinha acabado o dele.
- Não mudaste muito. – comentei.
- Mas tu mudaste. Estás cada vez mais...
- Mais quê?
- Ora tu sabes.
Mas que raio de conversa. Onde é que ele queria chegar?
- Conheço um sítio muito fixe, queres acompanhar-me até lá?
Finalmente, percebi onde é que ele queria chegar. Depressa apaguei o cigarro e olhei-o bastante séria.
- Oferta tentadora, mas não estou minimamente interessada, Ricardo.
- Porque não? Sempre me disseram que adoravas este tipo de jogos?
- Jogos? Que nojo, Ricardo. Se queres falar comigo sobre esses “jogos” podes nem sequer voltar a olhar para a minha cara, porque como já disse não estou interessada.
- Vá lá, não te vais arrepender. – incentivou, aproximando-se de mim.
O seu salvador de sempre fez-se vibrar, ordenando aos alunos que podiam sair para o almoço. A minha prima apareceu pouco depois.
- Desculpa, piminha. Demorei muito?
- Não, chegaste na altura certa.
- O que quer isso dizer?
- Esquece. Vamos lá, então.
Virámo-nos rumo à camioneta. Dei uma última olhadela para trás e levantei o dedo do meio ao Ricardo. Porco do caraças!

- Gostas desta?
Avaliei bem a camisola preta com uma mega caveira diante dos meus olhos.
- Porque razão é que precisas de ter pelo menos metade do teu guarda-roupa cheio de roupa gótica-barra-emo?
- Porque é muito fixe. Porque eu gosto. Porque me faz sentir bem? Capiche?
- Capichado!
Encaminhei-me para a secção de túnicas da Zara. Agarrei num cabide onde estava uma túnica branca com rendinhas super gira.
- E que tal esta?
Dalila virou-se para mim. Fez uma careta.
- Para a minha mãe é boa ideia.
- Hum não estava a pensar dá-la à tua mãe. – ri-me. – Era mais para mim.
- Ah, pois, eu sabia. – remexeu no cabelo liso e comprido. – Nunca hei-de compreender o teu estilo para uma adolescente de 19 anos.
- Também tu?! – exclamei frustrada.
- Também eu o quê?
- Também me achas mais velha do que sou na realidade.
- Não te estou a chamar velha, de maneira alguma. Só estava apenas a comentar que és muito mais mulher e responsável e crescida do que muitas raparigas de 20 e tal anos.
- Hum...
- Hey, não fiques amuadinha. Até é um elogio!
- Achas?! – interroguei, desconfiada.
- Claro!
Continuamos a ver roupas para nós.
- Mas porquê tanto alarido?
Revirei os olhos.
- Ontem conheci uma pessoa que me disse a mesma coisa e eu não gostei lá muito.
- Que pessoa?
- Um rapaz.
- Giro?
- Muito.
- COMO PODESTE ESCONDER-ME TAL NOVIDADE?
- SHIU! – disse para Dalila se acalmar.
- Mariza Ventura conta-me tudo!
- Não há nada para contar, a não ser a extra rudez dele!
- Rudez? Então?
- É melhor contar-te tudo desde o início.
- Concordo.
Fomos pagar as nossas roupas e depois fomos sentar-nos numa esplanada perto do McDonalds.
- Vim ao Parque Das Nações com o André depois do jogo. Enquanto ele pedia o meu café eu estava lá fora na esplanada. De repente, o André vira-se para mim ou melhor, não para mim, mas para uma pessoa atrás de mim e deiz-lhe adeus. Eu virei-me para trás e vi o tipo.
- O tipo? Hum, gosto da maneira como disses isso. – rindo-se.
- Não tem graça nenhuma! De um momento para o outro, já estava sentado connosco e falamos de tatuagens...
- Ele tem uma tatuagem? – interrompeu.
- Sim, tem. Mas desconfio que tem mais.
- Uhhh – arqueando as sobrancelhas.
- Shiu! Como estava a dizer, falamos de tatuagens e do meu emprego.
- Sim...? – perguntou ao ver que eu fiquei muito quieta e com certeza pálida.
- Ele... ele perguntou-me se eu batia aos golfinhos.
- O QUÊ?!
- Foi isso mesmo.
- Não acredito! Ele nem sequer te conhece, como pode pensar em ti como uma má tratadora?!
- Não faço ideia. – disse, olhando para baixo.
- Compreendo que estejas magoada. Ele não te conhece, mas eu sei que te deves sentir super magoada e triste por dentro; tu amas os teus golfinhos, nunca na vida farias uma coisa dessas.
- É claro que não!
- Tens de esquecer esse infeliz encontro. É normal haverem pessoas assim. Vivemos num Mundo a abarrotar com esse tipo de pessoas. Mas, temos de erguer a cabeça e continuar a viver sem nos deixarmos abater.
Olhei para ela mais sorridente.
- Tens razão, querida prima. Como sempre.
Dalila sorriu para mim também.
O meu telemóvel no bolso das calças começou a vibrar ao som de Man Down de Rihanna. Olhei para o ecrã.
- Quem é?
- Não sei, mas vou atender. Estou?
- Hello, how are you, darling?
Não acredito nisto!
- Juliet. – disse o nome da minha madraste como se tivesse a dizer o nome de uma doença muito grave. – Estou bem, obrigada. Onde está o meu pai?
- Sorry, honey. If you speak portuguese I can’t understand you.
- Juliet, tu entendes-me muito bem. Onde está o meu pai?
- Hey, wait. Don’t talk to me like that.
- Sim-sim. O meu pai?
- He is coming. Bye. X.O.
- Adeus!
- Mariza?
- PAI! Como estás? Estou cheia de saudades tuas. Quando voltas a Portugal?
- Estou bem, obrigado. Também tenho saudades tuas. Como tens passado?
- Bem. Está tudo bem.
- Como estão os tios?
- Como sempre.
Dalila fez-me sinal para que desse um beijinho ao meu pai por ela.
- A Dalila manda-te um beijinho.
- Ah a Dalila. Um beijo também para ela. Como é que ela está?
- Óptima.
- Ainda bem. HEY, PARABÉNS! Desejo-te um feliz dia, querida!
Senti o meu pulso tremer ligeiramente. Senti os meus olhos marejados de lágrimas.
- Hum... pai... eu já fiz anos.
- Não te estou a ouvir bem. Há muitas interferências.
- Eu fiz anos ontem!
BIP-BIP-BIP-BIP. Era a imitação do sinal de interrompido.
Ainda tinha o telemóvel ao ouvido, por isso ouvi tudo.
- Não me disseste que ela fazia hoje anos?!
- Oh did I make a mistake? Too bad. My fault, sorry.
- Não te desculpes, sabes que nunca me conseguiria chatear contigo.
- I know, baby. I know.
Desliguei o telemóvel, sem conseguir ouvir mais uma palavra.
Chorei encostada ao ombro da minha prima.
- Bom dia, Dalila. Outra vez por aqui? – disse o gorduxo.
- Sim, mas é outra vez que não venho para mim, mas sim pela minha prima.
Estávamos na loja das tatuagens/piercings preferida da Dalila.
- Outro piercing? – perguntou ao olhar para mim.
- Não. Uma tatuagem.
- Entrem, por favor. – disse o gorduxo mais simpático.
- O que queres?
- Quero a frase “Coraggio per la lotta” no fundo das minhas costas.
- Está bem.
Tirei a camisola e estendi-me na maca.
Comecei a ouvir a agulha a trabalhar. Olhei para a minha prima, sentada a olhar também para mim. Piscou-me o olho e eu sorri-lhe. Embora, por pouco tempo, pois a agulha tinha começado a perfurar a pele. Inspira. Expira. Isso mesmo.
(...)
- UAU! Adoro-a! – exclamei ao virar-me para o espelho da loja.
- Por acaso fica mesmo bem nessa tua cinturinha delgada. – disse o gorduxo. Olhei, enojada.
- Obrigada, acho eu.
Dalila riu-se.
Saímos da loja e cada uma foi para a sua casa.
A semana passou rápido. Escola, trabalhos, saídas com os amigos...
Não me saia da cabeça aquele encontro com o Espanhol.
Achava que me sentia atraída por ele, mas quando ele me veio com aquelas conversas de juízos de valor sem sequer me conhecer, explodi!
Agora, sentia um grande desejo de o voltar a ver e conversar com ele com mais calma e assim.
Mas como poderia voltar a vê-lo? Não podia... e tinha demasiada vergonha para pedir o favor ao André.
Quase que imaginava a sua cara ao implorar-lhe:
- Oh por favor. Quero ter um encontro com o Espanhol!
- Mas tu odiaste-o.
- Pois é, mas vá lá...
Báh! Que imagem repugnante!
Não, não tinha coragem de lhe pedir uma coisa do género.
Se o destino quisesse que nos encontrássemos outra vez, isso iria acontecer dentro em breve.
O pior, é que não tenho sorte nenhuma e o Destino pode não estar do meu lado nem hoje nem nunca. Enfim...

Sem comentários:

Enviar um comentário