domingo, 5 de junho de 2011

Soulmates Never Die ~ 4º capítulo

- André, porque raio tenho uma venda nos olhos?
O meu melhor amigo tinha-me ido buscar a casa e eu sabia que estava algures no Parques das Nações ou arredores, mas claro, não o podia confirmar, pois os meus olhos estavam tapados por uma éspecie de venda. O que se estava a passar?!
- Néné, isto não tem piada nenhuma! O que se passa aqui? Destapa-me os olhos. JÁ!
- Calma, minha doida. Em breve saberás o que se passa.
- Diz-me! André Filipe Bernardes Santos ainda me dá um ataque cardíaco!
Ouvi a porta do lado dele fechar-se. Fiquei como que em pânico, mas mantive-me bem quietinha. A porta do meu lado abriu-se; André pegou na minha mão e incentivou-me a sair do carro. Amparou os meus ombros e caminhámos lado a lado.
- Néné, o que é que...
- Shiu! – silenciou-me. – A minha prenda não tem embrulho. Não se pode usar todos os dias, mas hoje vamos divertirmo-nos dentro dela.
- Dentro dela?! Não tem embrulho? André, o que raio fizeste? Até estou com medo!
Ele riu-se:
- Não tenhas medo, dramática. A minha prenda também não pode ser aberta e fechada por nós, no entanto, podemos empurrar a porta...
- A porta? – inquiri, confusa.
Nesse preciso momento, os meus olhos foram desvendados e abri-os lentamente.
Comecei a ouvir Buffalo Soldier do meu cantor favorito. Vi o Rocket Bar cheio com todas as pessoas que amava; estavam lá todos os meus amigos, inclusivé Ana Micaela e Rafael e mais alguns dos meus colegas do Zoo. Começaram a cantar-me os Parabéns.
Virei-me para o meu melhor amigo e saltei para cima dele. Ele agarrou-me antes de cair com o rabiosque no chão e abraçou-me.
- OBRIGADA! OBRIGADA! OBRIGADA! ÉS O MELHOR AMIGO DO MUNDO! Sabes disso, não sabes? – perguntava eu ao agarrar-lhe na cara e enchê-lo de beijinhos.
- Claro que sei! Ainda está para ser inventado aquilo que eu não faço por ti.
- Hum será? – perguntei com um ar maroto. Levantei a mão com pericia. Não consegui resistir... despenteei-lhe o cabelo liso ultra sedoso.
- HEY, O QUE É QUE FIZESTE?!
Ri-me e desenvencilhei-me dos seus braços, aterrei bem no chão e corri para a pista de dançar, onde bombava Born This Way de Lady GaGa.
Dançámos muito, conversámos, bebemos, petiscámos, fizemos inclusivé um Concurso de shots. Eu e Pedro fomos os grandes vencedores. André – o adulto responsável – não bebeu uma única gota de álcool, pois tinha de nos levar a casa, mas como eu suportava bem o álcool, decidimos que eu iria conduzir o carro dele, enquanto este ía a Sacavém na carrinha hippie do irmão mais velho de Rodrigo para deixar à porta de casa os meus respectivos amigos sãos e salvos.
Quando André deixou Rodrigo, Pedro e a minha prima em casa, passou ele a conduzir o seu BMW. Chegámos à Quinta da Piedade, despedi-me dele e agradeci-lhe a grande noite que me proporcionou.
- Adoro-te. – afirmei.
- Eu também. – declarou.
Sorri-lhe e fechei a porta.
- MARIZA? – gritaram as irmãs Correia um pouco fora do controlo. Subi rápido a escadaria e cheguei ao portão.
- Calem-se, senão ainda chamam a Polícia.
- Ora, são sempre bem-vindos, certo Mariza? – inquiriu Diana de modo preverso.
- AHAHAH! – ri-me sem aguentar.
- Ai Jesus! Eu ainda me lembro daquele Alex! – exclamou Rita C. com cara de estar a relembrar histórias do passado.
- Hum qual deles? A bomba que estudava num Colégio Militar ou do surfista loiraço? – quis saber Diana.
- Do militar! Não estavamos a falar de Polícias com rabos lindos?! – disse Rita C.
- Tens razão! – exclamou Diana ao rir-se.
- Com qual deles andaste? – interrogou Patrícia ao virar-se para mim.
Fiz uma careta: - Com os dois.
As irmãs riram-se.
- E de qual gostaste mais? – interpelou Rita C.
- Será crime responder: dos dois?
- NENHUM! – responderam as irmãs em uníssono.
Rimo-nos com as expressões faciais delas.
- Vá meninas! Já chega de falar em tolices, como é o grande exemplo da minha vidinha amorosa. Vamos para casa. Já são 1 da manhã e eu amanhã tenho de me levantar cedo, porque vou trabalhar.
Já ía abrir a porta da minha casa, quando de repente, lembrei-me:
- Amanhã há jogo em Alvalade às 17h30.
- Nós não nos esquecemos! Vamos no carro dos meus pais. – declarou Patrícia.
- Ópimo. Então, até amanhã.
- ATÉ AMANHÃ, MARISCA!
Entrei em casa sem fazer muito barulho.
Fui para a casa de banho. Lavei a cara; tirei os meus 6 brincos, dois pares dados pelas irmãs Correia que decoravam as minhas orelhas; tirei o colar comprido com um pendente que dizia “M” com várias cores, oferecido pela Patrícia; lavei os dentes e vesti o pijama.
Levantei-me cedo e apanhei o comboio para o trabalho.
Os espectáculos correram bem como sempre.
Às 16h55 já estava em casa. Tinha pouquíssimo tempo para me arranjar, pois o jogo começava cedo.
Vesti umas jeans lavadas; escolhi uma camisola de gola alta castanha e uma túnica creme com um tigre- branco postado; Tirei o meu casaco de cabedal castanho do roupeiro e vesti-o; calcei as minhas All Stars vermelhas; dei um arranjo rápido ao meu cabelo; pûs creme na cara e perfume CoCo Chanel; ao pescoço reluzia o meu novo colar com a primeira letra do meu nome.
Saí de casa e no portão já estavam à minha espera Patrícia e as irmãs Correia. Entrámos no Mini dos pais Damas, conduzido pela sua filha.
Fomos buscar a minha prima, o Pedro e o Rodrigo ao café Eu&Ela.
Eu, Rita C. e Dalila fomos no carro da Patrícia, enquanto Diana foi na moto de Rodrigo, acompanhaos por Pedro.
Chegámos a Alvalade às 17h40.
Ainda estavam 0-0.
Cardozo e Salvio atacavam bastante, mas o ídolo de Patrícia: Rui Patrício estava a fazer grandes defesas. No meio-campo, a bola tinha uma certa dificuldade a avançar rumo à baliza e a muito se deveu à barreira feita pelo meu melhor amigo, se bem que Airton arranjava problemas na sua defesa.
Aos 35 minutos de jogo, Fábio Coentrão avançou pelo lado esquerdo.
A bola passa para Gaitan que por sua vez, passa para Cardozo, que ajeitava a bola para o pé esquerdo e remata à baliza, deixando Rui Patrício sem defesas. O Estádio cheio fica ao rubro. Os Sportinguistas protestavam e os Benfiquistas (como eu) assobiavam e pulavam.
Vi André Santos a abanar a cabeça, descontente. Mordi o lábio.
Era sempre difícil, quando o meu club ganhava e jogava contra o meu amigo. Puxei do meu maço de cigarros e do isqueiro.
Intervalo!
Aos 50 minutos, Hélder Postiga marca na baliza de Roberto.
Aos 67 minutos, Fábio Coentrão marca na baliza de Rui Patrício.
O Benfica já se dáva por vencedor, quando de repente, a bola cai nos pés de André e ele faz um grande e forte remate mesmo ao quantinho da baliza de Roberto que se lançou para o lado direito, tentando apanhar a bola... em vão.
O jogo acabou com um empate.
O pessoal começava a sair do Estádio e eu desci as Bancadas e dirigi-me à porta dos Balneários.
Cumprimentei alguns dos jogadores (muitos não gostava deles, mas isso não era razão para se ser mal-educada). Finalmente, André saiu.
Abracei-o. Embora ele não tivesse gostado do Sporting não ter ganho, foi ele quem levou ao empate e por isso, estava mais feliz.
- Foi um bom jogo. Jogaste muito bem.
- Obrigado. Queres ir ao Parque das Nações?
- Convite aceite. – sorrindo-lhe.
Estavamos numa esplanada do Parque ds Nações.
Estava sentada e conseguia ver os vulcões de água que faziam a delícia de muitos turistas e crianças.
André foi buscar-me um café e eu aguardei.
No interior do café quase vazio, estava ligado um plasma.
Virei a minha atenção para a SIC Notícias, onde algums comentadores reviam os melhores momentos do jogo que à pouco tive oportunidade de presenciar. Vi através da vitrina um rosto familiar.
- Benfica hizo un gran partido, aunque hemos sido un empate. Creo que el próximo juego de la Luz, las cosas serán diferentes.
- Já recuperou totalmente da pequena lessão, portanto de hoje a uma semana vai jogar contra o Sporting? – perguntou o jornalista ao jogador.
- Espero que sí.
- Muito obrigado. Foram as declarações de Javi García.
Ah já me lembrava de onde conhecia aquela cara! Era o tal Espanhol que tinha visto à dias, cujo o sotaque me fazia derreter.
- Hum... Javi García... – murmurei.
André virou-se para mim, mas reparei que o seu olhar estava fixo num ponto por detrás de mim. Acenou. Eu – curiosa – virei-me para trás e reparei numa figura muito perto de mim.
Era alto, magro, mas musculado. Trajava umas calças de ganga rotas e uma camisola branca. Ao peito encontrava-se um colar com duas chapinhas de metal. Os seus olhos estavam tapados por óculos de Sol Ray Ban aviador.
Tinha barba no bigode e no queixo. O cabelo estava ligeiramente rapado nos lados e em cima, uma grande crista domada por gel.
Ele tirou os óculos, lentamente, mostrando os seus ternos olhos cor de avelã.
Fiquei meia zonza, mesmo estando sentada mas quando ele entreabriu aqueles lábios rosados e sensuais, tive quase a certeza que os meus níveis de açúcar no sangue tinham esgotado por completo.
- Quieres un autógrafo?
- Um... autógrafo? – inquiri estupefacta. Quem é que ele pensa que é?!
Um jogador de futebol muito giro, okay, mas isso não lhe dava o direito de ser um gabarolas.
Ficámos a olhar um para o outro. Ele com o olhar de “estou a seduzir-te” e eu com o meu melhor olhar de “a tua sedução não está a resultar”.
Talvez estivesse... Que raiva! Quem é que ele pensa que eu sou?!
Uma fã louca à solta que iria entrar em histeria daqui a alguns segundos?!
Por favor...
- Javi? Tudo bem? – perguntou André alegre, com o meu café na mão.
- Estoy muy bién. Y tú?
- Também.
André reparou em mim ali sentadinha com um ar acanhado.
- Apresento-te a minha melhor amiga: Mariza Ventura.
Lancei-lhe um olhar bastante acusador. Ela não tinha nada que dizer o meu nome! Prometi vingar-me dele mais tarde.
- Javi García. Es un placer conocerte. – disse ele, erguendo a mão à espera que lha apertasse.
Olhei para a mão dele. As suas veias eram bastante evidentes. Reparei que no pulso direito tinha tatuada uma tatuagem tribal.
O Espanhol ainda tinha a mão estendida, quando disse a André:
- Obrigada por me trazeres o café.
André tossiu propositadamente.
- Hum de nada.
O Espanhol baixou a mão (devia de ter ficado com uma dor múscular).
- Senta-te aqui connosco! – exclamou André. O meu dia não podia piorar. – Eu vou buscar uma cerveja para mim, também queres?
O Espanhol acenou afirmativamente. André voltou ao café. Sentou-se e olhou para mim sem vergonha. Tentei ignorar os seus olhos tão bonitos, por isso comecei a beber o café quentinho.
- Cuál es tu club?
- Não se vê logo?
- Es un amigo del jugador de Sporting, por lo que la probabilidad es más alta que los seres del club. Pero que, tú tienes reconociemento de mí, sólo quiero acreitar usted tiene buen gusto.
- Queres acreditar que tenho bom gosto? Como assim? – perguntei, confusa.
PRIMEIRO: Achava que gostava dele?
SEGUNDO: Se gostasse dele, isso fazia de mim uma pessoa com bom gosto? Mas que lata!
O Espanhol também estava confuso. Só depois pensei que talvez ele se referisse ao bom gosto na escolha do clube.
- Sou Benfiquista!
- Sim, Mariza já sabemos do teu péssimo gosto na escolha dos clubes. – riu-se André ao trazer duas cervejas para a mesa.
- No estoy de acuerdo. – afirmou com um sorriso.
André encolhei os ombros. Deu a cerveja ao Espanhol e este levou-a à boca.
- Porque não jogaste hoje? Estava à espera de te ver ao meu lado.
O Espanhol riu-de.
- Sí, me lesioné, pero la próxima vez, voy a jugar.
- Jogas em que posição? – perguntei eu, sem olhar para ele.
- Yo soy un medio-defensivo, como André.
Voltei a olhar para a sua tatuagem no pulso. Estava a fascinar-me.
- Te gusta mi tatuaje?
Bolas! Fui apanhada.
- Sim, gosto de tatuagens em geral.
- Tienes alguna?
- Tenho.
- Dónde?
- Precisavas de ser muito minucioso para a encontrares.
Fez-se silêncio.
Não aguentei e comeceia rir-me.
- Estou a brincar.
Pus o cabelo para trás da orelha direita e virei ligeiramente a cabeça.
Como ele pôde confirmar, era uma tatuagem muito pequena, inofenciva e um pouco tola. Mas eu gostava dela; era a minha estrelinha da sorte.
- Gúapa.
- Obrigada.
- Qué significa?
- Significa a minha estrela da sorte. E a tua?
- Esto significa la Fuerza e el Valor. Es un tatuaje tribal.
- Eu sei. Tem um belo significado.
- De acuerdo.
O Espanhol e o André continuaram a beber as suas respectivas cervejas.
- Es un modelo?
Quase me engasguei com a minha própria saliva.
- Modelo? Eu? Nem por sombras.
- Por qué no?
- Porque não tenho jeito para essas coisas.
- Qué haces en la vida?
- Trabalho aos fins-de-semana no Jardim Zoológico de Lisboa. E acabo o 12º ano.
O Espanhol parecia surpreendido.
- Cuántos años tienes?
- Fiz ontem 19.
- Felicitaciones.
- Obrigada.
- De nada. Pareces mayores.
- Estás a chamar-me velha? – perguntei, quando a conversa já estava a azedar.
- De ninguna manera. – disse, mas pouco convincente para mim.
- Obrigada. – respondi amuada.
- De nada. – disse o Espanhol irritante.
André tossiu propositadamente, remexendo-se na cadeira.
- Bom, como a Mariza disse à pouco, ela trabalha aos fins-de-semana no Zoológico. É tratadora de golfinhos.
Sorri-lhe, quando ele disse a palavra “golfinhos”.
- Qué haces con ellos?
- Várias coisas. Alimento-os, faço os espectáculos com eles, ensino-lhes as coreografias e outras coisas e agora estou a aprender mais sobre o ramo da Biologia, ou seja, tratá-los com a ajuda da Medicina.
- Hum...  en los programas...  qué pasa si los delfines no quieren aprender?
- Perdão? – inquiriu, confusa com a pergunta.
- Sí, qué pasa si los delfines no quieren aprender? Bates de los delfines? Bates?
Fiquei a olhar incrédula para ele.
- Não, é claro que não! – exclamei, quando a minha paciência quase rebentou.
- Bates con un látigo?
- Um quê?
André aproximou-se do meu ouvido.
- Se lhes bates com um chicote. – informou-me.
- NÃO! NUNCA NA VIDA FARIA UMA COISA DESSAS!
- En serio?
- Eu adoro-os! Como podes dizer uma coisa dessas? Não me conheces de lado nenhum! Não tens o direito de falar assim comigo!
O Espanhol mirou-me minuciosamente.
- Perdóname.
Olhei para baixo, lutando com as minhas próprias lágrimas.
Ajeitei o cabelo para trás – o meu tic nervoso.
- Me tengo que ir. Es bueno volver a verte, André. Un placer, Mariza.
- Não posso dizer o mesmo. – respondi-lhe sem o fitar.
- Hey, onde vais? – interrogou André.
- Yo voy a encontrar con mi chica.
- Ah, está bem. Dá-lhe os meus cumprimentos.
- Gracias.
Levantou-se e caminhou rua fora.
- Bom, mas que... conversa.
- Nem uma palavra sobre isto! – avisei. – Mas que lata! Quem é que ele pensa que é?!
- Ele é muito fixe, mas acho que vocês os dois não se toparam.
- Nem por sombras.
- Esquece isso. – aconselhou, fazendo-me uma festinha no bochecha rosada.
- Já se está a fazer tarde. Levas-me a casa?
- Claro.
- Obrigada.

Sem comentários:

Enviar um comentário