domingo, 5 de junho de 2011

Soulmates Never Die ~ 6º capítulo

- Bom dia, Mariza. Desculpa ter chegado um pouco mais atrasado.
- Não faz mal, Rafa.
Eu já tinha vestido o meu fato de mergulho e já tinha alimentado os golfinhos e os leões-marinhos.
- Olha antes que me esqueça: está um rapaz nos portões à tua procura.
- Um rapaz? – perguntei, semicerrando os olhos verdes. – Quem?
- Não sei, nunca o vi por cá. Ele não quis revelar a sua identidade.
- Que estranho! – exclamei até um pouco preocupada.
- Sim, realmente.
- Nem sei se deva ir lá...
- Vai, não há-de ser nada de mal. Se calhar é um colega teu ou assim.
Rafael fitou-me.
- Mas se acontecer alguma coisa grita logo, ok?
- Sim, Rafa. Obrigada.
Arranjei o cabelo para trás. Mordi o lábio. Era melhor atar o cabelo; assim o fiz. Respirei fundo e dirigi-me aos portões da Baía dos Golfinhos.
Fechei os portões atrás de mim e quando me voltei para a frente embati em algo duro. Olhei de repente para cima. Senti o sangue a fugir-me da cara.
Não acredito nisto!
- Perdóname. – disse o Espanhol. Por que é que ele estava ali?
Senti a minha pulsação mais vibrante nas veias do pescoço e da cara.
Conseguia também ouvir os meus batimentos cardíacos no ouvido.
Tentei manter o meu ritmo de respiração normal, mas com aquele sotaque Espanhol era difícil. Passei a mão pela testa, tentanto distrair-me a mim própria.
- O que fazes aqui?!
- Vine a disculparme por mi comportamiento el pasado domingo.
- E só descobriste que agiste mal passados 5 dias?
- No, pero no sabía dónde encontrarte.
- Hum... – semicerrei os olhos para os seus em tons de avelã.
- Perdóname, de verdad. No quise hacerte danõs.
- Está bem, Espanhol. Eu perdoou-te.
- Gracias. – ao iluminar os seus olhos e boca com um sorriso rasgado.
Ficámos a olhar um para outro uns meros segundos. Eu estava completamente perdida no seu olhar tão tocante, emocionante, tentador.
Sentia uma espécie de íman que me puxava para ele, que me fazia sentir bem perto dele. Tinha mesmo de começar a controlar estas forças magnéticas. Pois não me podia esquecer que o Espanhol já tinha uma “chica” como ele próprio dissera.
- Então, não devias estar no treino? Vocês voltam a jogar com o Sporting amanhã, certo?
- Sí, vamos. La formación es sólo en la tarde.
- Sendo assim, estás na tua altura de descanso, não é verdade?
- Sí, por qué?
- Devias estar a descansar para o jogo de amanhã. Não era preciso incomodares-te com os meus sentimentos.
Ele abanou a cabeça, descontente.
- Cuando sé que hago algo mal, mi consciencia se vuelve pesado.
Fiz uma careta.
- Eu também, quando estou com a consciência pesada nem dormir consigo.
- Así que tenemos una cosa en común.
Sorri-lhe.
- Presumo que tenhas de ir à tua vidinha. Eu também tenho de ir trabalhar, ainda tenho de preparar os golfinhos e os leões-marinhos para o espectáculo de hoje.
Ele acenou com a cabeça. Depois, a sua cabeça desceu ao mesmo nível que a minha e os seus lábios murmuraram perto do meu ouvido, arrepiando-me:
- Puedo ver usted en el trabajo con los delfines?
- Sim, vai haver um espectáulo às 11h.
- No, no es eso. Me pergunto si usted puede venir a verte trabajar con ellos.
Olhei para ele. Ninguém tinha permissão para entrar na Baía sem ser o pessoal do Zoo. Nem mesmo os nossos amigos. Mas algo no meu interior me disse que se não arriscasse em conhecer aquele Espanhol... arrepender-me-ía.
- Hum... calma! Eu... – comecei a andar de um lado para o outro. – Eu já venho. – Virei-me e abri os portões novamente. Corri até ao balneário.
Agarrei no meu telemóvel. Marquei o meu número salvador. Aguardei.
- Alô? – disse uma voz calma e alegre.
- Micá! Tens de me fazer um grande favor! Please!
- O que se passa, Mariza? Aconteceu algo de grave?
- Não, mas pode vir a acontecer se não me ajudares.
- Ajudo-te. Diz-me.
- Eu vou mandar o Rafael ao teu encontro e tens de inventar umas coisas quaisquer para o empatares. Achas muito díficil? – interroguei, nervosa.
- Oh isso não é nada difícil, Marisca. Mas para que raio queres livrar-te do Rafa?
- Porque... os golfinhos vão receber uma nova visita.
- Como assim?
- Um amigo meu... não quer dizer, não é meu amigo... hum... um “conhecido especial” veio visitar-me e pediu se podia ver-me a trabalhar.
- MARIZA! ISSO É PROÍBIDO!
- Eu sei, mas vá lá, Micá, ajuda-me! Se não o fizeres eu vou ficar triste para o resto da minha vida e pior: infeliz!
- Ai credo, mas que dramática.
- Não é drama nenhum! É verdade, eu sinto.
- Está bem, está bem. Eu ajudo-te, mas só se prometeres contar-me tudo o que se passa. E, quando digo “tudo” é mesmo “tudinho”, entendido?
- Sim, senhora!
- Pronto. Então manda cá vir o Rafael.
- Micá, és a maior! Adoro-te, miúda.
- Eu também. Boa sorte.
- Obrigada. – sorrindo, excitadíssima.
Corri para a piscina dos golfinhos.
- Rafael? A Ana Micaela acabou de me ligar a dizer que precisava que fosses ter com ela urgentemente.
- A sério? Mas, aconteceu alguma coisa?
- Não sei, ela não disse.
- Agora fiquei preocupado. É melhor ir já.
- Concordo plenamente.
- Então, até já. Não demoro muito.
Espero que demores e muito, pensei.
Rafael já ía a sair rumo á Ilha dos Lémures e, quando eu já ía a correr de volta aos portões, dei um pulo que quase que o meu coração parou de palpitar.
- Já me esquecia, Mariza. Quem era o tal rapaz?
- Oh esse. Tinhas razão, era um colega meu da escola.
- Ah, está bem. Bom, fui. – e, finalmente desapareceu.
Respirei fundo e corri para os portões.
- Desculpa a demora, mas tive que desempatar o meu colega.
- Corres peligro por mi culpa?
- Só um bocadinho, mas... eu gosto de arriscar.
Guiei-o até às piscinas dos golfinhos.
- Só por curiosidade: por que é que queres ver-me a trabalhar com os golfinhos? É para se certificares que eu não lhes bato ou é por gostares deles?
- Me gustan los animales. Y los delfines son animales muy sensibles. Me fascina cómo nadan. Y también estoy curioso acerca de usted.
- Estás curioso acerca de mim?
- Sí, estoy.
- Okay... desculpa se te decepcionar.
- Yo no creo.
Sorri. Respirei fundo e mergulhei na piscina dos golfinhos.
Procurei o meu apito ao pescoço. Apitei e os golfinhos começaram a aproximar-se de mim, comunicando entre eles.
Com o som do apito, consegui que eles fizessem as inúmeras piruetas que eu e Rafael lhes ensinámos.
Sempre que voltava à tona de água, observava o Espanhol.
Não estava a prestar muita atenção aos golfinhos que se divertiam em meu redor. Ele estava mais concentrado em mim a nadar, a mergulhar, a fazer peripécias na água, a complementar os exercícios dos golfinhos.
Como reparei que ele me olhava fixamente, decidi perguntar-lhe:
- O que foi? Porque olhas para mim assim?
- Perdóname, pero me fascina cómo nadas.
Nunca pensei que isto me viesse a acontecer, mas eu estava realmente a corar. Já me tinha apercebido que ele despertava em mim novas emoções. Não é estranho? Sim, é mesmo bizarro, mas eu gostava desse despertar de novos sentimentos, mas acima de tudo, apercebi-me de que ele era boa pessoa e de que poderia ser um futuro bom amigo. E, se assim sucedesse, eu ficaria bastante feliz. Embora, nota-se que dentro de mim houvesse uma forte ansiedade e nervosismo. Como que um desejo insaciável por estar ao pé dele, desejo esse que era inexistente quando comparados às sensações positivas que sentia quando estava com os meus amigos. Não, não  eram as mesmas sensações, portanto formulei distintas pastas dentro da minha cabeça.
Pasta Nº1: Best Friend. Pasta Nº2: Amigos. Pasta Nº3: o Espanhol.
Sim, esta maneira de pensar era mais lógica.
- En qué estás pensando?
Parei de olhar para a água e mirei-o.
- Hum... estou apenas a lembrar-me de todas as coreografias para o espectáculo de hoje.
- Muy bien.
- Sabes que horas são?
O Espanhol levou a mão ao bolso dos jeans e olhou para o ecrã do telemóvel.
- Son las diez y cuarenta y cinco minutos.
- O QUÊ? Tão tarde! Oh meu Deus! O espectáulo está quase a começar. Tens de ir embora. – avisei-o ao sair da piscina, apressada. Desapertei o cabelo e escorri-o.
- Dónde voy?
Olhei para ele. Espreitei pelas portas da frente que davam vista para as bancadas... que já estavam cheiras de pessoas e mais umas quantas se lhes juntavam.
- Por ali. – apontei para a porta das traseiras.
- Muy bien. – disse ao virar-se para a porta.
Puxei uma mecha de cabelo ondulado para trás da orelha e brinquei com o lóbulo, enquanto via um corpo dono de 1,80 e tal metros. Parou de repente e virou-se, aproximando-se de mim. Olhei-o, curiosa.
- Gracias.
- Obrigada por quê?
- Gracias por ser quien eres.
Fiz-lhe um olhar confuso.
- Hay pocas personas  en el mundo como tú.
- Como assim?
- Usted me fascinan. Y yo soy un buen juez del carácter.
- A sério? Ainda bem... – disse nervosa. Fez-me tantos elogios que eu já não sabia como reagir. O Espanhol sorriu.
- Então, adeus. – disse, erguendo a mão direita, de modo a que ele pudesse dar-me um aperto de mão. Ele olhou para a minha mão pálida, onde se notavam as finas veias.
Os meus olhos assustaram-se, quando uma mecha de cabelo tapou a minha visão do rosto encantador presente em minha fronte.
O Espanhol levantou a mão direita e afastou o meu cabelo para trás e com a outra mão, agarrou o meu pescoço delgado e aproximou-se ainda mais de mim. Os meus batimentos cardíacos dispararam, quando os seus lábios finos afloraram a pele rosada da minha bochecha.
Sorri-lhe, corando novamente.
- Mariza? Mariza? Estamos atrasados! – enunciava Rafael ainda do outro lado das portas da frente. Esbugalhei os olhos.
- Vai! Vai! – dirigindo o Espanhol até à porta.
- Espera, espera. Manãna verás el juego?
- Sim, vou assistir ao Estádio. Agora, vai.
- Perfecto. Hasta manãna.
- Até amanhã.
A porta das traseiras fechou-se e com elas, o Espanhol partiu.
Respirei fundo ao dar um longo suspiro.
- Desculpa, Mariza. A Micá estava armada em chata.
- Coitadinha. Mas o que se passou? – perguntei ao tentar esconder a minha ironia.
(...)
- Calma, calminha! Deixa-me ver se percebi. Tu conheste o Javi García?!
Dei um golo no meu IceTea de manga.
- Exacto.
Ana Micaela tentava assimilar tudo com a maior calma possível.
- Eu nem acredito que tu estavas na piscina, enquanto o Javi García estava a observar-te e a apreciar a vista.
- LOL, Micá.
- Então, não foi isso que aconteceu?
Engoli a dentada que dei minha sandes mista.
- Sim, mas...
- Tu gostas dele! E ele também pode estar a gostar de ti!
- Mas que disparate, Micá! Olha é melhores comeres a tua sandes, senão já não vai saber bem.
- Como é que consegues? Como é que consegues conhecer o Javi García e só pensares em comida?!
Não consegui conter o riso.
- Tens de marcar um super encontro super romântico com ele.
- O quê?! Nem pensar. Eu não gosto dele dessa forma em que estás a pensar. E além disso, ele tem uma “chica”.
- Ah pois é. A Elena Gomez.
- Conhece-la?
Ana Micaela acenou com a cabeça.
- Não vês o FamaShow?
- Não.
- Bom, esse programa tem uma rubrica chamada Portefólio. É nessa rubrica que as mulheres e namoradas de famosos jogadores de futebol se deixam fotografar. Há algum tempo atrás, foi a vez da Elena Gomez. Ela é uma modelo. Acho que até já pousou para a PlayBoy ou outra revista do género.
- Blac. – disse, enojada – Com que então, ela é uma modelo. Hum...
- Qual é a admiração? – perguntou, curiosa.
- Ele perguntou-me se eu era modelo.
- OH MEU DEUS! A sério?
- Sim.
- E o que respondeste?
- Que não era.
- E ele?
- Quis saber por que razão não era.
Ana Micaela estava prestes a ter um ataque.
- Oh my Goshi. – como ela costumava dizer. – E tu?
- Eu disse-lhe que não tinha jeito para essas coisas.
- E o que aconteceu depois...?
- Ele perguntou-me o que é que eu fazia da vidinha. E eu disse-lhe. E ele armou-se em parvo a perguntar-me se eu mal-tratava os golfinhos.
Micá esbugalhou os olhos.
- Portanto, ele veio cá hoje para me pedir desculpas.
- Eles não vão jogar contra o Sporting amanhã?
- Vão sim.
- Isso significa que ele veio cá de propósito para te pedir desculpas?
- Pois, eu disse-lhe que não era preciso tal incómodo, mas ele disse que não conseguia viver de consciência pesada.
- Oh my Gohsi. Mas que fofo.
Nisso não podia contra-argumentar. Era verdade. Foi mesmo fofo.
- Por que estás a corar, Mariza?
Sobressaltei-me.
- Não estou a corar.
- Estás sim. Nunca te tinha visto corar.
Agarrei numa batata frita do meu prato e atirei-lhe para o prato.
Começamos a rir-nos.
- Vais assistir ao jogo?
- Claro.
- E por quem vais torcer?
Não foi preciso pensar, mas demorei algum tempo a responder.
- Pelos dois.
Micá sorriu.
(...)
Pelo caminho até casa ouvi vezes e vezes repetidas a música Se Quiser de Tânia Mara.
A música ainda pairava na minha mente, quando cheguei a casa, liguei o portátil e procurei Elena Gomez no FamaShow.
Elena era belíssima. Tinha o cabelo preto comprido e liso; olhos muitos escuros; pele bonzeada. Era bastante elegante, com pernas compridos e musculadas, seios volumosos e braços firmes.
Não podia competir com ela. Jamais venceria.
Eu era o total contrante de Elena.
Sou alta, magra, pálida, com bochechas rosadas, lábios carnudos de cor rosa claros, olhos verdes, sobrancelhas finas, nariz fino, cabelo comprido pelo peito, de cor castanha com nuances ruivas claras. E pior, não sou Espanhola...
Deixei escapar algumas lágrimas, enquanto via e revia o video do FamaShow.

Sem comentários:

Enviar um comentário