quarta-feira, 13 de julho de 2011

ALMAS DESTINADAS ~ 4ºCapítulo

EU CONHEÇO-TE! EU SEI QUE TE CONHEÇO!20h30
Derek tinha mesa muito bem posta. Ele tinha ido ao supermercado a comprar um vinho para os convidados. O lombo e as batatas já estavam cozinhados. Só faltavam mesmo os convidados. Entretanto, tocaram à campainha. Virei-me para Derek.
- São eles! – corri até ao hall de entrada e vi se estava apresentável. Estava – Deixa-me ser eu a explicar tudo.
- Já te ouvi dizeres isso à primeira vez.
- Pronto...
– suspirei e abri a porta com um sorriso.
- MARIZA! – exclamou Helena, atirando-se para os meus braços que a acolheram com ternura. – Tive tantas saudades, maninha!
- Também tive imensas saudades tuas! Já lá vão dois meses de férias, hã?
- É verdade! Claro que não planeava permanecer tanto tempo em Espanha, mas encontrei alguém que me fez mudar de ideias
. – afirmou com um largo sorriso. Desviou-se para o lado, para eu ver algo. O sorriso que outrora esteve na minha cara, desapareceu, assim como todo o sangue, o que me tornou extremamente pálida, presumi. Franzi o sobrolho.
Levantei o dedo indicador da mão direita, apontando para o belíssimo rapaz em minha fronte. Era alto e delgado; tinha um belo sorriso, uns ternurentos olhos castanhos com laivos de cor de mel, uma face fina e afiada, decorada com uma ligeira barba e o cabelo em tons um pouco mais escuros do que os olhos.
- Eu… eu conheço-te! Eu sei que te conheço! Mas de onde?
- Tens a certeza, mana?
– perguntou Helena, sorrindo de soslaio.
- Eu nunca esqueço uma cara! – exclamei, puxando pela cabeça. – Ai, peço desculpa, mas eu sei que te conheço de algum lado. – disse um pouco embaraçada comigo mesma.
Helena riu alto.
- É claro que conheces!
- Bem me parecia
. – respondi, aliviada por não ser imaginação minha.
O rapaz aproximou-se de mim, estendeu a mão e esboçou um largo sorriso.
- Mi llamo Javi García.
Levei a mão à boca ao esbugalhar os olhos.
- Oh, meu Deus! Eu sabia. – rindo-me. – É um prazer conhecer-te! Real Madrid, hã?
- Correcta! Pero ya no soy jugador del Real Madrid.
- Não?
- No, ahora soy del Benfica.

Levantei as sobrancelhas, admiradíssima.
- Uau, maninha! Notícias fresquinhas! – interviu Helena.
- É verdade, é verdade! Bom, mas agora não estou a trabalhar, por isso… Vá entrei. Sentem-se. Estejam à vontade. – fechando a porta. Derek levantou-se do sofá, olhando para os convidados.
Helena faz uma expressão confusa.
- Mariza? Quem é este rapaz?
- Sou Derek Hamilton
. – antecipou-se ele, apertando a mão à minha irmã.
- Estás a omitir-me algo, não estás, Mariza? – perguntou Helena, fazendo um olhar atrevido.
- É uma longa história…
- Ainda bem que a noite é uma criança…
(…)
Já tínhamos acabado de jantar e eu também já tinha terminado de contar a minha mais recente embrulhada.
- Maninha. Tu És. Incrível! – exclamou Helena. – Peço desculpa, Derek, pareces ser um tipo fixe, mas mesmo assim tenho de dar um raspanete à minha irmã.
- À vontade.
– respondeu Derek.
- Em que estavas a pensar?! – interrogou Helena, com os olhos muito abertos.
- Calma, Helena! Não foi nada demais! Foi apenas um favor…
- Já sei que és viciada em aventuras, mas isto passou das marcas! O que iriam dizer a mãe e o pai se estivessem aqui?!
- Mas não estão, portanto…
- Portanto, estou cá eu!
- Agora isso não interessa. Já está feito. O Derek está em Portugal e vai estudar. Era esse o objectivo.
Como viu que a conversa morrera ali e ponto final, Helena virou-se para Derek.
- Queres mesmo tirar um Curso de Fotografia?
- Sim, é o meu sonho.
- E o que gostas de fotografar?
- Essencialmente, paisagens.
- Interessante… não gostas de fotografar pessoas?
Derek encolheu os ombros.
- Nunca encontrei assim um modelo de quisesse mesmo fotografar. Nenhum modelo tinha as qualidades de pose e expressão de rosto que eu pretendia captar.
- Nenhum?!
– questionou Helena, olhando-me de soslaio.
Como se entrasse na cabeça da minha irmã, adivinhando os seus pensamentos, entrevi:
- Não, Helena, nem penses!Helena ignorou-me e continuou.
- Sabes, eu sou modelo e também já fiz alguns trabalhos de fotografia, mas sabes que mais? Não fui a única.Esfreguei a testa, começando a corar.
- Eu e a Mariza inscrevemo-nos para uma agência de modelos. Ambas entrámos. Mas eu sempre fui melhor na passerelle, já a Mariza… era a modelo fotográfica.
- A sério?
– perguntou Derek, mirando-me.
- Isso foi há muito tempo. – afirmei.
- Tinhas 17 anos! Não foi assim há tanto tempo!
- E fizeste muitas sessões fotográficas?
– inquiriu Derek.
- Nem por isso…
- Fez sim e muito boas, digo já!
- Tenho de ver isso…
- comentou Derek.
- Já podias ter tido, rapaz. – disse Helena, levantando-se do sofá. Começou a procurar algo nas prateleiras de madeira que tinha na sala. Encontrou o que queria. Trouxe um portefólio.
- Helena? Isso é passado!
- Mas é um passado bom!
Sentou-se entre Javi e Derek e começou a esfolhear as fotos.
- Esta és tu com 17 anos? – quis Derek saber.
- Sim… - suspirei.
- Tinhas o cabelo comprido…
- É o que parece…
Javi virou-se para mim.
- Helena seguió trabajando como modelo… por qué dejaste tu carrera? Usted tuvo un inmenso talento.
- E ainda tem.
– afirmou Helena, sem tirar os olhos das minhas fotos.
- Porque não era algo que eu quisesse fazer a tempo inteiro. A fotografia era apenas uma brincadeira…
- Mentira! Ela levava isto muito a sério.
– disse Helena.
- Talvez, não sei bem… era uma adolescente na altura. Ainda não sabia bem o que queria, ma quando me apercebi que não estava destinada a fazer aquilo, fiz a minha escolha e optei pelo Jornalismo, profissão essa que me faz feliz.Javi sorriu.
- Crees en el destino?
- Porque não?
Derek e Helena continuaram a esfolhear o meu portefólio e Javi também virou a sua atenção para ele. Estava visto que naquela sala, eu era a única que não estava interessada em ver fotos. As minhas fotos.
- Wow! Tens mesmo jeito para isto, miúda. – comentou Derek.
- Hum… - murmurei.
- Podíamos sair os quatro amanhã. – sugeriu Helena.
- Impossível. Amanhã vou para o Porto.
- Para o Porto? Fazer…?
- Fazer uma entrevista ao Radamel Falcão.
- Que é…?
- Ahora eres jugador del FCP
. – respondeu Javi.
- Exacto.
- Ah, não estou minimamente informada sobre Futebol
. – disse a minha irmã, tristonha.
- No importa. – contrapôs Javi, passando o seu braço esquerdo pelos ombros de Helena. – Usted está perfecta la forma en que están.Helena sorriu-lhe amorosamente, bem aninhada no seu abraço.
Fiquei bastante feliz por vê-los assim. A minha irmã merecia alguém à altura dela e apercebi-me que Javi estava à sua altura; ele parecia ser mesmo bom rapaz.
- Então e já escreveste a entrevista? – perguntou Helena.
- Claro! Estive todo o dia a trabalhar nela.
- Depois temos de comprar o jornal.
- Obrigada.
- Bom, se calhar já íamos andando…
- disse a minha irmã. – Tens de te levantar cedo amanhã.
- Pois é, mas não faz mal.
- Estás mais magra. Isso deve ser excesso de trabalho.
- Não…
Helena levantou-se de mão dada com Javi e fitou Derek, muito séria.
- Toma bem conta da minha irmãzinha. Ela é o meu tesouro. Se lhe fizeres mal, terás severas contas a ajustar comigo!
- Y yo también!
Foi muito engraçado ver Helena e Javi a oferecerem porrada ao Derek (um Polícia) se algo der para o torto.
Derek levantou as mãos no ar, pedindo rendição.
- Sim, meus caros senhores! Fiquem descansados. – garantiu.
Helena abraçou-me.
- Fica bem, querida. Um dia destes temos de marcar um jantar. Desta vez em nossa casa.
O Javi comprou uma vivenda bem perto daqui.
- A sério?
– perguntei, espantada.
- Sim, por isso se alguma vez precisares de alguma coisa é só dizeres.
- Obrigada e tu a mesma coisa, ouviste?
Helena apenas sorriu.
- Ah e amanhã deixa os pais orgulhosos.
- É isso que procuro fazer todos os dias.
– disse-lhe, encolhendo uma lágrima.
Helena afastou-se e Javi aproximou-se de mim.
-Mariza. Fue un placer conocerte. Creo que vamos a ver otra vez… y tal vez muchas veces.
- Pois, não será nada estranho… sou jornalista desportiva e tu jogador de futebol
– ri-me. – Um dia destes talvez te faça uma entrevista.
- Estoy a su disposición. – disse antes de me dar um beijinho na face.
Hum… ele cheirava tão bem, rindo-me de mim própria com tal pensamento.
Depois aproximei-me do seu ouvido.
- Cuida bem dela. E se não o fizeres, tens de te a ver comigo! – ameacei.
- De acuerdo. – disse ele abafando uma risota.
Derek também se despediu deles; Foram-se embora. Fechei a porta.
Suspirei ao ver a mesa da sala cheia de loiça suja. Comecei a lavar a loiça com a ajuda de Derek. Quando terminámos, dirigimo-nos à sala, onde me estendi no sofá. Derek agarrou nas minhas pernas, sentou-se no sofá, deixando pousar as minhas pernas fatigadas em cima das suas musculadas.
- São ambos muito simpáticos. – declarou Derek.
Sorri.
- É. A minha irmã já sabia que era, mas o Javi... conhecemo-nos hoje e embora tenhamos estado pouco tempo juntos, sinto que ele é mesmo um rapaz fixe para a Helena. E – suspirei profundamente – fico mesmo muito feliz por sentir isto. Ambas precisamos de nos alegrar, pensei.
- Eu espero que hajam mais oportunidades destas. Jantares em puro convivio. – desabafou Derek.
- Eu também.Subitamente, Derek pôs-se muito direito.
- Já me esquecia! – exclamou ao levantar-se, procurando algo num saco que trouxera.
Regressou – esboçando um sorriso tímido (coisa que nunca o vi fazer) – com uma caixinha preta. Entregou-ma.
- É para ti.
- O que é isto?
- Abre e descobrirás.
Mordi o lábio, nervosa. Seria uma partida de mau gosto? Por segundos pensei em recusar-me a abrir, mas quando os meus olhos castanhos escuros se cruzaram com os olhos verdes-azulados de Derek, algo no mais profundo de mim me impediu de executar aquela tola ideia. Abri a caixinha e de lá tirei um fio fino e comprido de metal.
Apreciei a sua textura; não era nada rugoso. Era leve. No entanto, o seu objectivo era-me desconhecido. Derek sorri ao fazer uma covinha no rosto e pega no pequeno pendente do fio. Não era bem um pendente, era um ganxo forte capaz de suportar qualquer jóia ou outra coisa qualquer que eu quisesse lá prender.
- Como disseste que estavas sempre a perder as tuas pens e como, com muita pena minha, não querias usar a aliança que te comprei, dedici assim, trocá-la por este fio, onde podes prender a tua pen, que inclusivé reparei que tem um pequeno cordãozinho. Tenho a certeza absoluta que nunca a irás perder, desde que a tragas no fio ao teu pescoço.UAU! Mas que querido por parte dele!
Fui imediatamente procurar a minha pen que me lembrava (aleluia) de a ter posto na mala.
Agarrei nela e prendia no fio de metal. Pus o fio ao pescoço. A pen pendia-me pelo peito.
E assim, tive a certeza que nunca mais a perderia.
Sem explicar bem porquê, abri muito os meus olhos brilhantes e aproximei-me de Derek.
Apesar dele ser dono de uns belos 1,90 cm, os meus 1,73 não me deixaram ficar mal ao não ser necessário esticar muitos os meus pés para chegar ao rosto onde queria depositar um beijinho ternurento. Derek paralisou ao sentir os meus lábios carnudos na sua pele.
- Obrigada. – sussurei.
Ele ficou um pouco nervoso, comportamento que não percebi nem queria perceber.
Estava demasiado cansada para descodificar um mistério dele, por isso sentei-me no sofá, embrulhada nos meus próprios braços, quando Derek começa a passar pelos canais de televisão demasiado rápido. Nem me apercebi que os meus olhos já estavam a querer fechar-se compeltamente passados poucos segundos.

(DEREK)
Mariza parecia uma menina ultra inocente e desprotegida, enquanto dormitava.
Eu não conseguia desviar os olhos do seu rosto pequeno, dos seus lábios rosados, das suas pestanas longas e escuras, do seu cabelo curto que parece eriçar-se mal detecta a sua mudança de humor, do seu corpo bem delinheado e curvilineo.
Fiquei bastante contente por ela ter aceite de tão bom grado o meu presente útil.
Fiquei bastante triste quando ela se recusou em usar a bonita aliança que lhe comprei.
Mas, tinha de compreender o seu ponto de vista. E o facto de achar que começo a compreendê-la melhor, há certas coisas que me escapam a uma velocidade-luz.
Quando vi as suas fotos, a minha pasmada alma não queria acreditar. Ela tinha jeito... imenso jeito, aliás. Com 17 anos já tinha aquele corpo bem esculpido e os olhos já eram tão ou mais expressivos do que são no presente. No entanto, e com todas estas perfeitas características, deixou fugir uma oportunidade daquelas que já tinha nas mãos.
Se Helena não deixou escapar a oportunidade de ser modelo a tempo inteiro, porque razão Mariza não seguiu o exemplo da sua irmã mais velha? Compreendo a sua paixão por jornalismo, mas podia fazer ambas as profissões, tal como eu tenciono fazer quanto a ser agente da PSP e fotografo ao mesmo tempo.
Porque razão não fez ela isso? Porque razão optou apenas por uma actividade?
Era uma coisa que o meu instinto tinha de descobrir, pois algo me diz que há mais passado nela do que aparenta haver...
Levantei-me devagar e sem fazer barulho. Peguei nela ao colo e transportei-a até ao seu quarto. Tirei-lhe os sapatos de salto alto e embrulhei-a com o cobertor.
Pelo que notei, ela nunca se mexeu. Devia estar muito cansada ou então tinha um sono mesmo pesado. Ajeitei melhor a almofada e depois algo dentro de mim incentivou-me a dizer:
- Estavas tremendamente enganada. Não escolhi a irmã errada. Escolhi-te a ti e escolhi-te acertadamente. Já procurava por uma rapariga há algum tempo em Inglaterra, mas tu foste aquela com quem eu queria casar. Eras a Escolhida. Disseste que a tua irmã era muito mais bonita do que tu, mas aos meus olhos, isso não é verdade. Helena está destinada a ficar com Javi e tu e eu estamos destinados a ficar juntos. Foi assim que o destino foi traçado quando te pus os olhos em cima. – disse tudo aquilo de uma rajada, murmurando para que na verdade ela não ouvisse uma única palavra do que eu estava a dizer. Levantei-me e fechei a porta devagar atrás de mim. Quando já me encontrava no corredor, Ginja Tomás olhava para mim com um ar ameaçador. Bolas! Aquele gato parecia um guarda-costas!
Quando eu passo por ele, ele eriça-se todo e rosna-me.
Para além de parecer um guarda-costas, também parece um detector de mentiras ambulante.
O que poderá mais fazer? Ler os meus pensamentos? Se lesse acho que estava metido em bravos sarilhos, pois naquele preciso momento estava a pensar na mentira que espetei a Mariza ao dizer-lhe que só me queria casar com ela para ter realmente um relacionamento com ela. Foi um plano estúpido eu sei. E infantil. E idiota. E mais uma vez estúpido.
Mas fi-lo. E o que está feito não pode ser desfeito.
Afastei-me do Guarda-costas/detector de mentiras/(graças aos Deuses) NÃO leitor de pensamentos e fui arranjar o sofá (a minha cama improvisada).

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