terça-feira, 5 de julho de 2011

ALMAS DESTINADAS ~ 2º Capítulo

TIVESTE SAUDADES DA MAMÃ, GINJA TOMÁS?
Lisboa, 11 horas

Abri a porta de casa. Coloquei as minhas malas à porta do meu quarto. Derek seguiu atrás de mim.
- É agradável.
- Claro que sim
. – corroborei.
Derek voltou lá fora, trazendo a Roxanna atrelada.
Revirei os olhos, suspirando ao mesmo que tempo.
- Sinceramente, não faço ideia como é que fui capaz de autorizar a entrada desse enorme bicharoco no meu apartamento…
Roxanna ofegava, cansadíssima. Veio logo para os meus pés, cheirá-los. Afastei-a com leveza e fui à procura do meu amorzinho.
- O que estás a procurar? – interrogou Derek.
- Ginja? Vem à dona, Ginja. – pedia a nenhures. Passados uns segundos, lá vinha o Ginja, com ar de Príncipe, todo empertigado e presunçoso. A sua cauda farfalhuda enrolou-se às minhas pernas, ronronando alto e bom som. Peguei nele. – Oh, meu fofinho. Tiveste saudades da mamã, Ginja Tomás? – fazendo-lhe festas, amorosas. Ele fitava-me com os seus olhos verdes claros, vaidosos.
- Ginja Tomás?! – riu-se Derek. Ambos – eu e o meu gatinho – fizemos-lhe má cara. Ele viu a nossa expressão facial, mortífera e pôs as mãos no ar, rendendo-se. A atenção de Ginja virou-se para Roxanna.
Esta só fazia farejar intensamente. Pus o Ginja no chão; Roxanna queria brincar com ele, mas (e orgulhando a sua dona) o felpudo rosnou-lhe e a cadela cor de areia encolheu-se. Após esta excelente marcação de território, por parte de Ginja, este erguei a cabeça, majestosamente, e espaventou-se até à sua casinha na varanda do meu quarto.
- Educas-te o teu gato à tua medida, estou a ver… - comentou, ironicamente.
- Bom, eu vou arrumar as minhas roupas e você?
- Você?! Trata-me por tu, óh Franjinhas.
- Com queiras, mas não me chames isso
. – Franjinhas?! Enfim…
- Acho que te fica bem, a propósito.
- Não perguntei a tua desinteressante opinião.
- Bolas, que fera! E eu a pensar que os meus ex-colegas é que eram brutos… temos de nos dar bem, afinal de contas, a partir desta tarde, vamos ser marido e mulher.
- Nem sequer me lembres. Preciso de tomar uns calmantes.
– gracejei.
- Não é preciso estares nesse estado de nervos.
- Derek?
- Sim, noiva?
- CALA-TE!
Dirigi-me ao meu quarto e comecei a arrumar as minhas roupinhas no guarda-roupa.
Despachei-me rapidamente. De seguida, fui dar comida ao Ginja. Voltei à sala.
- Então, estás aí a olhar para ontem que já passou?
- Queria pedir-te uma coisa, mas como estavas ocupada…
- O que queres?
- Precisava de um sítio onde possa guardar a minha roupa e afins.
Ponderei um pouco.
- Acho que ainda tenho três gavetas vagas no meu segundo roupeiro. – fui ao meu quarto para me certificar. – Sim, tenho mesmo três gavetas disponíveis.
- Só três?
- Pronto, está bem, podes também usar metade do meu segundo guarda-roupa. Mas é mesmo só metade!
- Yes! Obrigada.
Báh, detestava estes tipo de negociações com ele.
- Bom, daqui a quinze minutos, vamos ao Registo Civil para despacharmos esta trapalhada toda.
- Perfeito; vou só arrumar as minhas coisas. Até já.
Dez minutos passados, Derek apresentou-se na sala com umas calças pretas e uma camisa branca, onde eram realmente realçados os seus músculos do peito e braços. A fim de parar de olhar para ele com um ar atónito, cocei a testa, um dos meus tiques nervosos.
- Estou bem? – questionou.
- Razoável.
- Mentirosa!
Não lhe liguei; levantei-me do sofá e encaminhei-me até ao hall de entrada, mirando-me ao espelho.
Arranjei o cabelo e abri a porta.
- Vais assim? Tão simples?
- Não estou bem?
- Não é que estejas mal, só que bem, normalmente as mulheres gostam de ir mais arranjadas para o seu casamento…
- Mas isto não vai ser um casamento. Isto é apenas um favor que vou fazer a um desconhecido.
Derek semicerrou os olhos verdes azulados.
- És incrível, tu!
- Não estou bem?
– voltei a perguntar, ignorando a acusação.
- Razoável.
- Óptimo!
Pus a mala à tira cole e esperei que ele fechasse a porta atrás de si.
Chegámos por fim à Conservatória do Registo Civil de Oeiras e esperámos a nossa vez.
Passou meia hora e fomos chamados.
- Preparada, Noiva?
- Já assinei variados papéis em 20 anos de existência. Estes irão ser mais uns na longa lista.
Derek fez uma espécie de rosnido. Entrámos na sala. (…)
- Prontinho! – exclamei, aliviada por aquilo ter acabado.
- É verdade, Sra. Hamilton.
- Eu não pus o teu apelido no meu nome!
- Mas podemos fingir que puseste.
- Nem pensar!
– arregalando os olhos.
- Bom, eu vou fazer umas compras.
- Compras? Onde? Não conheces nada por estes lados.
- Estás a oferecer-te como guia?
- Frio, muito frio. Estás muito longe da verdade.

Derek riu-se.
- Não te preocupes, babe, eu não me perco. Tenho GPS no telemóvel.
- Óptimo. Então, adeus.
- Até logo.
E dirigimo-nos para direcções diferentes.

(19h45)
Estava a começar a preparar a minha salada de tomate com atum e milho, quando o meu telemóvel tocou.
Dirigi-me ao hall de entrada, onde ele estava. Olhei para o ecrã e sorri.
- Olá, Helena! Tudo bem?
- Oi, maninha. Tudo e contigo?
Hesitei um pouco ao responder.
- Estou bem. – antes que ela me perguntasse porque estava a minha voz estranha, mudei de assunto – Então, como estão a correr as férias em Espanha?
Ela riu-se.
- O máximo, Mariza, o máximo! Tenho-me divertido imenso.
- Ainda bem.
- Amanhã à tarde já devo estar em Lisboa.
- A sério?
– perguntei, chocada.
- Sim e não vou sozinha.
- Não vens sozinha? Como assim?
- Levo companhia espanhola e para ficar.
- Wow! Agora é que não percebi mesmo. Explica-te.
- Talvez te explique tudo amanhã se me ofereceres um jantar em tua casa. A mim e a outra pessoa. Pode ser?
Jantar? Em minha casa? Ai, ai, Mariza. Talvez fosse boa ideia contares tudo à tua irmã.
- Claro que pode ser!
- Ah, perfeito! Então e tu? O que tens feito?
Para além de me ter metido numa mega embrulhada, na qual me vou arrepender profundamente um dia destes…
- … Cheguei hoje de Inglaterra.
- Oh, a sério? O que foste lá fazer?
Arranjar um Polícia very hot que me desfaz a cabeça em água…
- … Resumidamente, fui sacar informações ao André Villas-Boas.
- Ah, pois. O novo treinador do Chelsea.
- Hum, a minha irmãzinha informada a respeito das novidades futebolísticas… sim, senhora. Estou deveras impressionada!
Helena riu mais alto.
- Bem, a tua irmã preferida está prestes a mudar em relação a esses temas.
- A sério? Então e porquê?
- Guarda a tua curiosidade nata para o teu trabalho. Só irás saber amanhã á noite.
- Não sei como vou aguentar…
- mordi o lábio.
Ouvi a campainha.
- Quem é? – interrogou a minha irmã mais velha.
Talvez o meu marido?...
Abri a porta e fiz sinal a Derek para ele não abrir a boca. Ele acenou com a cabeça.
- Hum, era publicidade.
- Publicidade a esta hora?
Fiz uma careta.
- Sim, uns rapazes da ZON.
- Ah, okay…
- Então, eu amanhã estou de portas abertas para te receber a ti e à tua pessoa “mistério”.
Ela riu-se baixinho.
- Então, vá maninha, não te empato mais. Beijinhos grandes. Adoro-te!
- Beijinhos. Também te adoro
. – e desliguei.
- Quem era? – perguntou Derek.
- Era a minha irmã, não que te diga respeito, mas pronto.
- O que é o jantar?
Olhei para ele com a sobrancelha esquerda arqueada.
- Salada.
- Boa. Com quê?
- Com salada.
- Só isso?
- Sim, não tenho muita fome.
- Ah, não faz mal. Também não tenho muita fome.
- Hum, ok.
Acabei de por a mesa para mim e pus a tigela da salada no meu individual.
Sentei-me e comecei a comer. Notei que Derek me fitava. Parei de comer e olhei para ele.
- O que foi, rapaz?
- Então e eu?!
- Tu o quê?
- O meu jantar?
Fingi fazer um olhar confuso.
- Não tens mãos?
- Não as vês, é?
- Sabes o que é uma cozinha, não sabes?
- O que raio queres dizer com isso?
- Quero dizer que aqui em casa, se quiseres comer, és tu que fazes a paparoca
. – e abocanhei um bocadinho de atum e alface.
Derek abriu a boca, espantadíssimo. Continuei o meu jantar. Derek virou-se para o fogão e remexia nas prateleiras, tentando encontrar algo comestível, enquanto murmurava pragas.
Abafei uma risada com um pequenino ataque de tosse. (…)
Quando ele se sentou à mesa com uma enorme tigela cheia de cereais Crush com leite, reparei na sua mão esquerda, em particular, no seu dedo anelar. Quase me engasguei com o pêssego careca.
- O que é isso? – questionei, apontando para o dedo. Derek seguiu o meu gesto com o olhar.
- É uma aliança, caso não saibas. Demoraste muito tempo a reparar nela. Uma jornalista não tem que ser minuciosa?
- Tens mesmo de usar essa porcaria?
- Tenho.
Comecei a levantar a minha loiça suja.
- Queres ver a tua?
- A minha quê?
- A tua aliança.
Arregalei os olhos e, outrora o copo de vidro que tinha mão, estilhaçou-se em diminutos vidrinhos, parecendo diamantes a brilharem no chão.
- Que susto, miúda. Olha para isto!
- Eu. Não. Vou. Usar. Isso. Não vou!
Baixei-me e comecei a limpar o chã da cozinha.

1 comentário: