quarta-feira, 6 de julho de 2011

ALMAS DESTINADAS ~ 3ºCapítulo

ESCOLHESTE A IRMÃ ERRADA
6 horas da manhã

Acordei bem cedo, pois hoje era dia de trabalho. Corri para a casa-de-banho, ligando de imediato o rádio. Tocava uma música linda, à qual eu estava viciadíssima! Acompanhei a angelical voz de Luísa Sobral em Not There Yet. Tomei banho, amando o aroma de Dove Deeply Nourishing na minha pele e de eucalipto no meu cabelo castanho escuro curto. Penteei-me, lavei os dentes e pintei os lábios em tons vermelhos, como sempre.
Dirigi-me ao meu quarto e prestei atenção às peças de roupa presentes no meu guarda-roupa. Escolhi uma camisa de manga curta vermelha, umas calças pretas e uns sapatos com um pequeno salto em tons vermelho escuro. Mirei-me ao espelho. Sim, estava apresentável. Pus perfume e sai do quarto, encaminhando-me à cozinha, cuja porta estava fechada. Olhei para a sala e Derek já não pernoitava no sofá. Tinha acordado tão cedo como eu? Impressionante... Abri a porta da cozinha. Quando entrei, esqueci-me de respirar.
- Bom dia, Mariza.
Entreabri ligeiramente os lábios, não conseguindo disfarçar o espanto.
A mesa estava incrivelmente decorada com dois pratinhos e duas canecas de leite com café. Haviam tostas mistas em cada um dos pratinhos e deitava um cheiro de um magnifico manjar dos Deuses. De seguida, olhei para Derek. Já estava vestido; trajava uma t-shirt de cavas branca e umas jeans escuras.
- Senta-te, senão o pequeno-almoço arrefece.
Fiz o que ele disse, automáticamente.
- Tu. Fizeste. Tudo isto?
- Vês aqui mais alguém?
- Limita-te a responder à pergunta.
- Sim, pronto fui eu. Satisfeita?
- Veremos.
– respondi, quando levei à boca a tostinha de queijo e fiambre ainda quente.
Demorei um pouco a usufruir de todo o sabor que ela tinha para dar e só depois, disse:
- Sim, estou bastante satisfeita.
Derek sorriu e esfregou as mãos.
- Ainda bem, babe. Eu acho que começámos com o pé esquerdo.
- Muito esquerdo.
- E que tal se começássemos tudo de novo? Como deveria ter sido.
- Cometeste erros.
- Quais?
- Pediste para me casar contigo sem sequer me perguntares o nome e nem se tinha namorado. E começaste-te a armar em carapau de corrida.

Derek clareou a voz.
- Olá, bom dia. Eu sou o Derek Hamilton e tu és?
Revirei os olhos e sorri, fazendo covinhas.
- Chamo-me Mariza Albuquerque.
- Lindo nome!
- Obrigada.
- Então, tens namorado?
- Não, mas porquê?
- Porque eu tenho uma proposta muito bizarra a fazer-te.
- Lido bem com cenas bizarras.
- Muito bem; é o seguinte: eu quero viajar para Portugal, de modo a tirar um Curso de Fotográfia. Eu sou apaixonado pelas paisagens portuguesas e penso que esse é o melhor sítio para um fotografo em iniciação.
- Hum...
- Deste modo, queria pedir-te em casamento.
- Deixa-me ver se percebi
. – fiz um ar intrigante. – Estás a pedir-me para viajarmos para Portugal e irmos ao Registo Civil, a fim de nos casarmos, com o objectivo de poderes viver e estudar em Portugal. É isso?
- Claro como água.
- Hum...
- Está bem
. – sorri-lhe, encolhendo os ombros.
- A sério?
- Sim.
Derek estendeu-me a sua enorme mão, cheia de veias salientes.
- Foi um prazer negociar contigo.
- No problem
. – apertando-lhe a mão.
Depois ficámos em silêncio a olhar para a comida e um para o outro. Acabei de beber o meu leite, agarrei num guardanapo e embrulhei a outra metade da tosta nele.
Fui ao meu quarto, buscar a pasta do portátil e a minha malinha de camurça castanha à tira cole. Voltei à cozinha para buscar a tostinha.
- Isto foi muito engraçado. Até és simpático, já viste?!
Derek esboçou um sorriso de orelha a orelha.
- Mas não te vou fazer os jantares.
- Ena, fogo! Até te preparei o pequeno-almoço!
- Foi muito doce da tua parte, mas eu não te pedi nada. No entanto, ainda bem que deste gracha à chefe da casa.
Fiz uma festinha ao Ginja me se roçava nas minhas pernas.
- Porta-te bem. – sussurrei-lhe.
Quando me virei para a mesa da cozinha, uma caixinha com um anel em ouro ostentoso, chamou-me à atenção.
- E não. Não vou usar isso.
- Então, vai à loja e troca por algo que gostes.
- Nem pensar. Ainda para mais, a minha agenda sobrecarregada não o permite.
- Eu hoje vou procurar emprego.
- Está bem, boa sorte. Volto às 18h30.
Passei a porta da cozinha e já ia abrir a porta de entrada, quando Derek apareceu atrás de mim.
- Deixaste cair isto. – abriu a mão e de lá saiu a minha pen. A mais recente.
- Oh, raios partam as minhas pens.
- Então, o que se passa?
- É assim é que as perco de vista. Essa comprei-a na semana passada e este ano já comprei quatro.
- Hum...
– murmurou Derek, pensativo.
- Bem, obrigada, então. Até logo.
Desci as escadas e olhei para o relógio que marcava 7h30. Caminhei um pouco até à rua da Patrícia. Comecei a dar dentadinhas na tosta, meti os fones nos ouvidos e ouvir Not There Yet e comecei a rodopiar no meio da rua. Era normalmente, assim que começava os dias: com um grande sorriso, independentemente das horas que tinha de me levantar, a cantarolar e a expelir toda a minha energia matinal. Cheguei à casa da Patrícia e sentei-me no capõ do mini dela. Passados poucos minutos, ela saiu de casa.
- Bom dia, Mariza. – saudou-me, abraçando-me.
- Bom dia, Tixa. Já estamos atrasadas?
- Nadinha... a Rita é que deve estar.
- AHAHAH!
– ri-me.
A Rita demorava sempre muito tempo a despachar-se, por causa da sua máquina fotográfica que andava sempre com ela. Entrámos no mini e seguimos pela estrada.
Era óptimo vivermos todas perto das outras, não só para as saídas e galhofas, mas também, mesmo por questões de trabalho. Chegámos a casa da Rita e esperámos dez minutos.
- Ai desculpem, desculpem, mas a minha bebé ainda não estava toda carregada e ainda tive de lhe mudar o rolo.
- Como sempre
! – exclamamos eu e Patrícia ao mesmo tempo.
- Então, é verdade Marisca. Já trataste daquele assunto? – perguntou Rita.
- Qual assunto?
- Do casamento
. – ajudou Patrícia.
- Ah, isso. Estou oficialmente casada.
- Fogo, Marisca, mas que cena!
- Podes crer.
- Nem sei como é que aceitaste...
– comentou Patrícia. – Eu não aceitava. Sabias lá quem era o tipo ou se não te estava a mentir.
- Não pensei muito nisso, na verdade. Apenas deixei-me ir.
- Pois... se calhar não resististe à farda!
– gracejou Rita no banco detrás.
- Oh, não sejas tonta. Ele parecia estar mesmo a dizer a verdade.
- E como é que ele é?
– interrogou Patrícia.
- Chato, um pouco machista, madrugador, às vezes vaidoso, mas até consegue ser querido.
- Hummmmmm
. – disseram Rita e Patrícia com olhares intimidantes.
- Nada disso, meninas, nada mesmo!
- Está bem, está bem
. – disse Rita pouco convencida.
Entretanto, chegámos às instalações do jornal A Bola.
Fomos sentar-nos nas nossas respectivas secretárias. Comecei logo a trabalhar na entrevista que antes de ontem tinha feito a André Villas-Boas.
Bernardo começou a agitar-se à frente do meu monitor. Ainda cheia de boa disposição e paciência, perguntei-lhe.
- O que queres?
- Então, sempre foste para Inglaterra...
- Fui, porquê?
- Por nada. Eu disse à Ritinha que tu não tinhas postura e experiência suficientes para ires até Inglaterra e entrevistar o grande Villas-Boas.
- Pela tua informação, ele não é assim muito grande e sabes porque sei isto? Porque ele esteve mesmo pertinho de mim e sabes a fazer o quê? A responder às minhas pertinentes questões.
Bernando ficou com cara de enjoado. De repente, Rita Martins – filha do nosso patrão e chefe da nossa redação – apareceu por detrás dele.
- E foi por isso mesmo que não pensei duas vezes ao colocar a melhor tripla de jornalistas em Inglaterra. – afirmou ela, convicta.
Bernando murmurou umas pragas e foi-se embora. Rita Martins aproximou-se da minha secretária.
- Então, mostra-me os bons resultados.
Fiz um clique para o video da entrevista começar. Rita acenou coma cabeça, satisfeita.
- Muito bem, como sempre não me arrependo das escolhas que faço. Assim como não me vou arrepender desta. – e atirou alguns papéis agrafados para cima da minha secretária. Li os primeiros parágrafos. Arregalei os olhos e levantei as sobrancelhas.
- Oh, meu Deus! Queres que eu vá fazer uma entrevista desta grandeza?
- Quero!
Rita riu-se. Levei a mão à testa, coçando-a, nervosa.
- Quero que faças um guião base com as perguntas que queres fazer. Assim que o acabares, vens ao meu gabinete, mostrar-mo. Vou falar com a Rita Correia e com a Patrícia; elas vão fazer equipa contigo.
- Óptimo, óptimo!
– exclamei eu, entusiasmada.
Virei-me para o monitor e antes de começar a pensar nas questões que iria colocar na entrevista, decidi fazer uma profunda pesquisa sobre o jogador de futebol que iria entrevistar: Ramadel Falcão García.
Fiz a pesquisa e logo me surgiram perguntas na mente. Comecei a teclar no portátil.
Estava quase a acabar de escrever a entrevista, quando Patrícia se debruçou ao meu lado, olhando para o monitor. Minimizei a janela e olhei para ela com ar traquina.
- Sim, menina Tixa?
- Mas que má! Estava só a espreitar.
- Vais ter vista privilegiada n entrevista.
Ela riu-se: - Pois, é. É muito bom a chefe ter confiança em nós.
- Concordo, mas ela apenas vê o nosso vasto talento.
Sorrimos. Patrícia voltou para a sua secretária e eu para o meu trabalho.
Passados poucos minutos, imprimi toda a entrevista, agrafei e dirigi-me ao gabinete de Rita Martins. Entrei e entreguei-lhe os papéis. Ela demorou um pouco de tempo a analisá-la, pelo que me sentei no confortável sofá que ela tinha no seu grande gabinete.
Ela leu e voltou a reler muito cuidadosamente. De seguida, levantou o olhar para mim e disse:
- Está perfeito. É isto que pretendo.
- Então e quando é que tenho de ir ao Porto?
- Já contactei com o Falcão; ele está disponível amanhã
.
Mordi o lábio.
- Mas amanhã é o meu dia de folga.
Rita matutou cinco segundos.
- E se fosses amanhã trabalhar e ficasses com a Segunda-Feira livre?
- Combinado.
Saí do gabinete. Fui almoçar com as minhas colegas.
Voltámos ao trabalho, tratando da compra dos bilhetes e etc.
Quando mal dei conta já eram 18h e eu ainda estava a teclar sobre a entrevista.
Rita Correia e Patrícia bateram-me no ombro.
- Por hoje já chega menina.
- Calma, calma. Estou mesmo quase a acabar.
Passaram-se dez minutos, e desliguei o computador. Arrumei as minhas coisas e dirigimo-nos ao mini que descansava no parque de estacionamento.
Despedi-me rápido das minhas amigas, pois tinha um jantar importante para preparar.
Entrei em casa e fui surpreendida por uma música dos Depeche Mode (uma banda que gostava imenso); era a Enjoy The Silence.
Derek olhou para mim.
- Espero que não te importes por ter usado as colunas.
- Não, deixa lá. Eu gosto de Depeche Mode.
- A sério?
- Sim.
Sentei-me no sofá, um pouco afastada dele. De repente, o meu telemóvel vibrou.
Tirei-o da mala. Olhei para o ecrã. Era um sms da minha grande amiga: Inês Oliveira.
“Olá, girl. Tudo bem? Amanhã é Sábado e eu sei que estás de folga. Temos de por a conversa em dia. Aceitas uma dia ida ao Vasco da Gama? Beijos.”
Respondi: “Oi, está tudo bem comigo e contigo? Amanhã viajo para o Porto. Vou fazer uma entrevista ao Falcão. Mas estou livre no Domingo…”
“Falcão? Porto? Báh! Bom, mas é o teu trabalho… boa sorte com isso. Então que seja no Domingo, depois combinamos. Beijos.”
“Está bem. Beijos.”
- Bem, vou preparar o jantar.
- Ai vais?
– questionou, bastante surpreendido.
- Ah, é verdade, esqueci-me de te dizer. A minha irmã vem cá jantar hoje e traz companhia. Portanto, deixa-me ser eu a explicar tudo o que aconteceu, ok?
- A tua irmã é como tu?
- Como eu? Como assim?
- É assim teimosa e rabugenta como tu?
Fiz uma careta.
- Não sou rabugenta!
- És sim!
Revirei os olhos.
- Não. Ela é muito mais simpática e linda do que eu. – sorri.
- Ainda bem que é mais simpática. – riu-se. – Já mais bonita não sei.
- Perdão?
- Ainda não a vi. Só posso tirar as minhas conclusões depois de a conhecer.
- Hum.
- Não fiques amuada.
- Não estou amuada, apenas cansada.
- O trabalho foi duro?
- Digamos que amo aquilo que faço e assim não custa tanto. Amanhã vou para o Porto.
- Para o Porto?
- Sim, é no norte de Portugal.
- Que fixe! Posso ir contigo?
- Hum, não.
- Porquê?
- Porque não compraste os bilhetes e ainda por cima, eu vou em trabalho.
- O que vais lá fazer?
- Vou entrevistar o Falcão. Um jogador do FC do Porto.
- Ah, aquele que o Villas-Boas queria comprar para o Chelsea?
- Esse mesmo.
- Mas, vá lá. Deixa-me ir. De certeza que há lá óptimas paisagens.
- Hum, nem por isso…
Derek fez-me olhinhos, como o Gato das Botas no filme Shrek. Mordi o lábio.
- Pronto como queiras, Sr. Turista!
- Boa! Vamos comprar os bilhetes?
- Sim, vamos.
– disse eu ao ligar o portátil para comprarmos os bilhetes via internet.
Depois de comprarmos os bilhetes, eu levantei-me e fui até à cozinha.
Ia fazer lombo de porco no forno com batas a murro. Comecei a preparar as batatinhas pequenas. Derek apareceu na cozinha.
- Eu ajudo-te.
Foi buscar os alhos e partia-os aos bocadinhos.
- Então, a tua irmã também é jornalista?
- Estás muito curioso em relação à minha irmã.
Ele encolheu os ombros com indiferença.
- Não, a minha irmã é modelo.
- Modelo?!
– inquiriu, completamente admirado.
- Qual é o espanto? – dando uma gargalhada. – Acho que te estás a mentalizar que escolheste a irmã errada.
Derek abanou a cabeça, juntando o seu riso ao meu.

Sem comentários:

Enviar um comentário