segunda-feira, 5 de março de 2012

ALMAS DESTINADAS - 12º CAPÍTULO

NÃO VOU VOLTAR A COMETER O MESMO ERRO
Segunda semana de Agosto, 6h, no Aeroporto de Lisboa


Eu, Rita Correia e Patrícia estavamos muito agarradinhas à nossa patroa, Rita Martins.
Ela estava de partida para New York; ía visitar o seu primo, Tomo, da banda 30 Seconds To Mars.
- Como já vos tinha dito, foi uma grande honra trabalhar com vocês. Espero que tudo corra bem durante a minha ausência. – soltando um risinho. – Penso não demorar muito, talvez uns meses.
- É muito!
– dissemos em coro.
Rita Martins riu-se e deu-nos um grande abraço e por fim, declarou:
- Até mais! Eu vou dando notícias. Não pensem que se veem livres de mim assim, tão facilmente.
- Nem queremos. – ripostou Rita Correia, dizendo-lhe adeus com a mão à medida que Rita Martins se afastava com as suas enormes bagagens.
Ficámos ali, olhando-a, até que desapareceu do nosso campo de visão.
De repente, senti um apertão no peito. Reconhecia aquilo. Era um pressentimento. Murmurei:
- Acho que a partir de hoje, muita coisa vai mudar.
Rita e Patrícia olharam para mim.
- Já começou a mudar... – comentou Rita Correia.
- Podes crer! Este Verão mudou bastante as nossas vidas. – alinhou Tixa.
- Pois é. – ri-me sem vontade.
Cruzámos os braços umas nas outras e deixámos o aeroporto de Lisboa.

Finalmente, chegámos às instalações do jornal A Bola.
Reparámos que estavam todos em grande alvoroço, o que não era nada costume.
Dirigimo-nos às nossas secretárias.
Entretanto, Amélia – uma colega nossa – chamou-nos:
- Bom dia, meninas. Já chegou a nossa nova patroa.
- JÁ?!
– disseram Rita Correia e Patrícia ao mesmo tempo.
- Sim. Quer ver-vos. Urgentemente!
- O que é assim de tão urgente?
– interroguei, desconfiada, cruzando os braços.
- Não sei. A Filipa não disse. Mas, eu aconselho vivamente a irem já ao gabinete dela.
- Estás cá com uma cara, Amélia...
– comentou baixinho a Rita Correia.
- Ela é assim tão... “querida”? – questionou irónicamente a Patrícia.
Pela cara da Amélia, eu nem precisava de ouvir a resposta.
- É melhor irmos ver o que ela quer. Não queremos causar já má impressão, certo? – disse eu, rindo-me.
Dirigi-me ao ex-gabinete da Rita Martins e bati à porta.
Não gostei muito do tom de voz estridente que me disse para entrar.
- A Amélia Cruz informou-nos que queria ver-nos. – falei calmamente. – Chamo-me Mariza Albuquerque e elas são Patrícia Damas e Rita Correia. – apontei respectivamente para cada uma das minhas colegas.
Filipa sorriu sem vontade.
- Eu sei perfeitamente quem vocês são. Aliás, aposto que vos conheço melhor do que vocês me conhecem a mim. – ripostou.
- É claro que sim! – encolhi os braços. – Tem os nossos currículos mesmo à sua frente.
Filipa levantou uma sobrancelha loira perfeitamente depilada.
Depois, desviou os seus olhos azuis dos meus para as pastas que tinha à sua frente.
- Adoro o seu sentido de humor matinal. É sempre assim, tão engraçada?!
- Ainda não estou a tentar ser engraçada
. – declarei com um sorriso ténue.
- Sentem-se!
Sentámo-nos.
- A Rita disse-me que vocês as três são a equipa sensação deste jornal.
- Fazemos boas reportagens, sim
. – respondeu Patrícia.
- Não lhe pedi opinião, querida.
Filipa começou a esfolhear outra pasta; não eram os nossos currículos.
- Tenho visto os vossos trabalhos e conclui que são... hum... burras.
- Desculpe?!
– berrou Rita Correia, incrédula.
- Deixem clarificar o uso do meu adjectivo.
- É melhor, é.
– reforçou Patrícia.
- Eu acho uma inutilidade terem relações com pessoas tão importantes e não utilizarem essa informação.
- Não estou a perceber
. – disse eu.
- Eu esclareço, minha querida. Tu – apontou para mim. – és irmã da Helena Albuquerque, modelo de profissão e namorada do jogador do Benfica, Javi García.
Abri-lhe muito os olhos.
- Tu – apontou para a Patrícia. – és namorada do André Santos do Sporting.
- E tu
– apontou para a Rita C. – aceitaste a proposta que a Rita Martins te fez em meu nome e vais espiar o Raúl Meireles do Chelsea.
Ficámos as três a olhar umas para as outras, de boca aberta e extremo espanto nos olhos.
- E eu, como vossa patroa, quero que vocês usem a informação que conseguirem, através dessas relações e fazerem um bom trabalho, vendendo jornais à farta. – riu-se Filipa, contentíssima.
- Nós não somos uma revista cor-de-rosa. Somos um jornal desportivo. – argumentou Rita C.
- Isso foi no tempo do reinado da Rita Martins. Agora veio uma nova Rainha.
Rainha?! Nem pensar! É mais do género: Bruxa Malvada.
- Não! Eu não aceito esse tipo de trabalho. – afirmou Patrícia, determinada. – A minha vida privada não tem nada a ver com o meu trabalho. Sou profissional e sei distinguir as duas coisas.
Filipa acenou com a cabeça.
- Muito bem. A escolha é tua. Não queres subir de posto? Eu entendo...
- Não vou mudar de ideias
. – continou Patrícia.
- Pronton-pronto! E a Rita Correia? Partilha da mesma decisão que a sua colega?
- Não. Eu quero ir para Inglaterra. O salário é bom e eu sempre quis conhecer melhor o Reino Unido..
- Excelente! Depois, acertamos os pormenores.
Fez-se silêncio e mesmo sem olhar para Filipa, sabia bem que ela estava a olhar para mim.
- E a Mariza? Já decidiu ou precisa de mais tempo para pensar?
Não a encarei.
O meu olhar e pensamento estavam fixos no passado.
Num passado de há quatro anos atrás.
Quatro anos que mudaram a minha vida e a minha personalidade.
Quatro anos?! Bem, só agora reparei que este número até tinha a ver com uma... pessoa... especial... que me levou ao clímax do amor, mas também do desespero, angústia e até depressão.
Consegui murmurar, por fim:
- Não posso aceitar. Não vou voltar a cometer o mesmo erro que cometi no passado.

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