sábado, 3 de março de 2012

ALMAS DESTINADAS - 11º CAPÍTULO

EU SÓ PRECISO DE UM AMIGO...
Quarta-feira, 19h30, Na campa do Ginja Tomás

Estava bastante calor, mesmo de noite, portanto optei por vestir um vestido e como sempre, as minhas All Stars.
Avistei um carro a aproximar-se e parou. Era Diego Rubio.
Saiu do carro deu-me dois beijinhos e perguntou-me como estava e se estava pronta para um belo jantar. Eu sorri-lhe e disse que sim.
Abriu-me a porta do lado do condutor e eu entrei.
Chegámos ao restaurante passados 20 minutos de condução.
Entrámos, fizemos os pedidos.
O restaurante era acolhedor e tinha pouca gente.
Entretanto, o telemóvel de Rubio começou a tocar. Ele olhou para o visor e disse que tinha mesmo de atender. Disse, ainda, que não se demorava muito.
Sorri-lhe, enquanto o vi-a sair do restaurante.
Ele parecia mesmo ser um tipo às direitas; era muito simpático, terno, querido e bem-parecido.
A nossa pequena mesa ficava no fundo da sala e dáva-me um vista privilegiada sobre quem entrava, quem saia e tudo o mais.
Eu sei que sou curiosa. Desvantagens da profissão (ahahah).
De repente, chegam aos meus ouvidos uma pronúncia que punha o meu miocardio (músculo do coração) a funcionar com mais rapidez.
Eram Javi e Helena.
Não me viram, graças a Deus.
Fiquei a observá-los, segura de que nunca me veriam.
Sentaram-se; pouco tempos fizeram os pedidos.
Sorriam ternamente um para o outro, trocanto palavras e carícias com os dedos.
Helena levantou-se, dirigindo-se à casa-de-banho.
Javi olhou para o seu prato. Parecia que tinha a cabeça cheia de pensamentos turvos. Apertou a cana do nariz. Massajou a face.
Parecia cansado e nervoso ao mesmo tempo.
Depois, tirou uma caixinha lustrosa do bolso do casaco.
Olhava para ela, mordendo o lábio. Estava claramente, incerto sobre algo.
Abriu a caixinha.
Vi algo a reluzir.
De seguida, tudo aconteceu muito rápido.
Parei de respirar.
Uma lágrima escorregou pela minha face pálida.
Parecia que tinham caído uma pilha de livros grossos em cima da minha cabeça.
Foi nesse momento, que ele olhou para mim.
Viu a minha reacção.
Entreabriu os lábios que pareciam ter sussurrado algo.
Um “perdóname” talvez.
Levantei-me num ápice e corri depressa, saíndo do restaurante.
Pus as mãos na cara, para quem se, eventualmente, cruzar comigo não ver a minha pobre figura.
Atrás de mim, ouvi:
- MARIZA? MARIZA? QUÉ PASA?! ESPERA POR MÍ! – berrava Rubio.
Por mais que o quissesse fazer, não conseguia.
Continuei a chorar e a correr para a praia.

Estava sentada de joelhos reflectidos e o rosto enterrado neles.
Senti alguém afagar-me os cabelos curtíssimos.
Esse alguém também me beijou o cabelo revolto.
Olhei para cima com a visão turva.
Rubio sorriu-me, mas eu fui incapaz de lhe devolver o sorriso que lhe era merecido.
- Rubio, desculpa... – comecei por falar.
Ele abanou a cabeça, sentou-se a meu lado, enquanto o seu braço rodiava os meus ombros.
- No tienes que pedir disculpas.
- Tenho sim! Estava tudo a correr tão bem... e eu arruinei o jantar.
- No lo creo. Creo que alguien te arruinó la cena.
- Pois... se calhar foi mais isso...
- Pero... quien?
Virei-me para ele.
Não lhe podia contar. Não podia contar a ninguém!
Como raio é que se conta a alguém que uma pessoa gosta do namorado da sua irmã?!
Namorado?! AHAHAH!
Pai da criança que carrega no ventre, isso sim!
Ou melhor: prestes a ser seu noivo!
Era isso que estava a acontecer dentro daquele restaurante.
O Javi comprou um anel de noivado à Helena e, devia estar agora mesmo ajoelhado, com os olhos a cintilar e a perguntar à minha irmã:
Quieres casarte conmigo, Helena Albuquerque?
- Deja. No tienes que decirme nada.  Qué soy?! Nos conocimos  hace unos días.
Olhei para ele, ainda mais triste comigo mesma.
- Diego? Tu és um rapaz muito, muito fixe. É verdade que apenas nos conhecemos há uns dias, mas não é por isso que não te posso dizer o que se passa. Não posso dizer a ninguém. Por favor, não penses que a culpa é tua. Porque não é. Não é mesmo, Diego.
- Eres una chica hermosa, inteligente y fuerte. Pero... estás triste.
- Estou... magoada.
- Y no debe ser la primera vez.
- Não, não é a primeira vez. – relembrando-me do meu passado que transformou o meu amor em desespero e angústia. Mas, também que recordei do que me salvou, naquela altura: foi ter um amigo.
Mal ouvi Rubio dizer:
- Yo nunca magoarei.
Quando, olhei para ele, com a minha decisão tomada e prestes a contar-lhe todo o drama que enchia a minha cabeça, vi-o aproximar-se rumo aos meus lábios.
Pousei-lhe a mão no peito, afastando-o levemente.
- Não, Rubio. Não consigo. Não posso. Eu... ando muito confusa.
Ele semicerrou os olhos, também ele confuso.
- Eu... amo outra pessoa e, neste momento, eu só preciso de um amigo.
Rubio acenou com a cabeça.
- Quieres decirme qué sucede?
- Quero. E VOU contar-te.
Ele cruzou os braços, pensando estar preparado para saber a verdade.
Eu, fechei os olhos por uns segundos, lambi os lábios para os humedecer e comecei a contar.

- Yo lo sé que necesita.
- Do que é que eu preciso?
– perguntei curiosa.
Tinha contado tudo ao Rubio.
Ele, impressionou-me. E eu gostava de ser impressionada e não desiludida.
Fiquei muito leve como uma pena.
Mas, sentia a pena preta, em vez de branca. Não tinha paz interior.
- Cuando quiero piensar, expresar y tomar la rabia que tengo dentro de mí, corro.
- Corres?!
- Sí.
- Começas a correr assim? De um momento para o outro?
- Exacto.
- E ficas melhor?
- Muy mejor.
- Hum...
- No quieres correr conmigo?
- Mas, agora? – comecei a rir-me.
- Sí!
- Ah, hum...
– balbuciava eu, incerta.
Com isto, Rubio levanta-se, de repente, tira a sua t-shirt e ténis.
- Vienes o no?!
Olhei para ele com os olhos muito aberto e espantados.
Ri-me alto, enquanto descalçava as AllStars.
Corri para junto dele à beira da praia.
Demos as mãos e corremos assim - muito loucos, contentes, jovens com sangue a ferver e a pulsar forte – pela linha da costa, onde a água nos batia nos pés e a Lua brilhava no alto céu estrelado.

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