segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

10º CAPÍTULO - ALMAS DESTINADAS

JÁ SEI DAS NOVIDADES! PARABÉNS!
Terça-feira, 7h30, Apartamento da Mariza

As meninas já se tinham vestido e ido a casa.
Eu fui a última a tomar banho, mas depressa me despachei e vesti.
Quando cheguei ao escritório, Rita Martins (a minha patroa) chamou-me ao gabinete.
- Quero informar-te que tu, a Patrícia e a Rita Correira têm de trabalhar esta tarde.
- Okay... o que temos de fazer?
- Têm de ir ao Estádio do Sporting. Hoje realizar-se a apresentação do novo jogador do Sporting: Diego Rubio.
Acenti com a cabeça.
- Faz uma pesquisa sobre ele, começa a trabalhar no questionário e quero que me o mostres antes de irem.
- Sim, senhora, chefe!
– exclamei eu com um sorriso nos lábios, encaminhando-me para a porta.
- Mariza?
- Sim?
- Foi um privilégio trabalhar contigo.
Fiquei confusa.
- O que queres dizer com isso?
- Eu vou passar uns tempos em New York... vou visitar o meu primo Tomo.
- Ah, sim! O que tem uma banda com os irmãos Leto.
- Exacto...
- Mas, não vais demorar muito, pois não?
- Não tenho intenções de voltar a trabalhar aqui.
- O QUÊ?! PORQUÊ?!
- Quero morar em New York. Sempre foi esse o meu sonho...
- Então e... quem é que vai ser a nossa chefe?
- Estou a ver candidatos...
- Hum...
- Mas, vai lá. Começa o teu trabalho. Não te incomodo mais.

E assim o fiz. Comecei a pesquisar sobre esse novo jogador e rapidamente terminei o questionário breve.
Ele tem 18 anos (quase da minha idade; eu fiz 20 no final de Outubro, enquanto ele fez 18 em Maio); é chileno.
Jogou no Colo-Colo. O seu pai e os dois irmãos também eram e são futebolistas.
Rita Martins leu e nada alterou.
Fui almoçar com as minhas colegas antes de rumarmos a Alvalade.

Faltavam 5 minutos para a conferência de imprensa começar.
Patrícia montou os seus equipamentos.
Rita Correira já estava a postos com a sua máquina fotográfica.
Eu estava sentadinha com o microfone na mão, aguardando.
De repente, chegou Carlos Freitas e os flashes das máquinas fotográficas dispararam com grande azáfama, embora não tivessem feito um barulho tão alto, quanto o meu coração, quando vi quem era o novo jogador do Sporting.
O novo jogador do Sporting foi quem atropelou o meu gatinho;
Foi quem tinha deixado flores na sua campa improvisada e me tinha dado um lírio nessa mesma tarde.
Sem saber porquê, levantei-me e fiquei de boca aberta, enquanto o microfone balançava na minha mão trémula.
Foi nesse momento que ele me viu. Ficou com os olhos muito abertos e coçou a testa para disfarçar antes de se sentar.
A pedido das minhas colegas, também eu me sentei.
Os jornalistas começaram a fazer as primeiras perguntas.
Diego tentava não olhar para mim, mas de vez em quando, a sua concentração fracassava e fitava-me.
Ergui a mão. Clareei a garganta e falei:
- É ainda jovem e pouco conhecido em Portugal. Como se define como jogador?
Ele olhou para mim, piscando os olhos várias vezes antes de me responder.
- Bueno, hola. – sorrindo. – Soy un delantero central. Trato hacer gol. Soy un jugador de equipo. Quiero hacer gol y trabajar en equipo. – concluíu.
- Tinha mais clubes interessados em si. Porque é que escolheu o Sporting?
- Bueno, hablamos un poco y me dijeron que Portugal era muy tanquilo y muy lindo. Hablé con algunos amigos que pasaron por el Sporting y me dijeron que era un bueno club.
Agradeci com a cabeça.
A apresentação acabou algum tempo depois.
A sala já estava praticamente vazia.
As minhas colegas estavam a falar com Carlos Freitas, enquanto eu arrumava os meus materiais.
Senti uma mão forte agarrar-me no braço e puxar-me para si.
- Es una periodista?!
- Larga-me!
– exclamei-lhe. Ele obedeceu. – És um jogador de futebol?!
- Pensé que no sabía quién era yo!
- E eu a pensar que eras um simples rapaz!
- Pero yo soy un tipo simple.
- És um jogador de futebol!
- Qué tienes contra los futbolistas?
- Não prestam! Usam e deitam fora!
– tirando dois ou três...
- Bueno, no estoy en ese grupo.
- Ai, não?!
- No.
Fitámo-nos intensamente durante um bocado. Cruzei os braços.
- Permítame eliminar esta ideia que usted tiene sobre los futbolistas.
- Como? Não vais mudar a minha opinião.
- No?
- Não.
Outro olhar intenso.
- Quieres cenar conmigo mañana?
- Não!
- Una oportunidad. Sólo una.
– murmurando muito próximo de mim com um tom muito sedutor. Raio do chileno!
- Afasta-te de mim. – com a voz fraca. Muito fraca.
- Tienes miedo.
- Medo? De ti? Poupa-me!
- No de mí. Tienes un herida en su corazón.
- Cala-te.
– já me ía embora, mas o seu braço deteve-me.
Fitei o seu antebraço e o meu olhar foi subindo e subindo até ver o aglomerado de carne maciça, também chamado músculo, escondido pelo equipamento do Sporting.
- No voy ceder. Te lo apuesto.
- Não faço apostas.
Ele riu-se.
- Es mejor para usted.
- Porquê?
- Por que si apostasses, perdias.
Franzi o sobreolho. Ele sorriu, satisfeito. Largou-me e eu saí, esperando pelas minhas colegas no carro.

18h30

Roxana andava de um lado para o outro.
- O que foi, bicharoca? Queres ir passear?
Ela ladrou. Esperava que fosse um “sim”.
- Acho que ambas precisamos de um pouco de exercício físico.
Entrei no meu quarto e vesti-me um equipamento desportivo fresco e cómodo.
Peguei na trela da Roxanna e saímos de casa.
Estava a correr com Roxana a meu lado, quando alguém pára perto de mim e começa a olhar. Não me importei e segui caminho, até que ouvi o meu nome numa voz funda e sensual (sem se esforçar) com um perfeito sotaque espanhol.
- No he visto duante algún tiempo...
- Só não nos vemos há uns dias, Javi.
Ele encolheu os ombros.
- Te extrañé.
- Hum... – ele acabou de dizer que teve saudades minhas?
- Cómo has estado?
- Bem...
- El Falcão fue un estúpido para haber hecho eso.
- Já estou habituada. E sei seguir em frente.
Ele sorriu.
- Así mismo! Mereces ser feliz.
Roxana começou a brincar com a cadela do Javi: Lolita.
- Já sei das novidades! Parabéns! – exclamei, esboçando um sorriso.
Ele olhou para baixo, corando.
- Gracias.
Fiz uma careta.
- Não pareces muito feliz. Não foi... – tossi – planeado?
- Más o menos. Helena quería desesperadamente un niño, pero creo que quiere un... matrimonio.
- A sério? Bem, deves ser mesmo algo de especial, Javier García.
Ele ficou confuso.
- A minha irmã deve amar-te mesmo.
- Hum...
- E tu?
- Yo qué?
- Ama-la?
Javi suspirou e despenteou a crista com ambas as mãos.
- Estoy confundido...
- Confuso?! Javi, a minha irmã vai dar à luz um bebé. O teu bebé!
- Lo sé.
- Lo sabes? Parece que não! O que te faz tanta confusão?
Ele olhou-me muito de repente. Os seus olhos estabeleciam um magnetismo inexplicável sobre os meus.
- No puedo decir.
- Porque não?
- Nadie está preparado para aprender la verdad.
- O que queres dizer com isso?
- Nada! Me tengo que ir. Adiós!
E afastou-se a passos largos.
Roxana ladrava alto e assim, tirou-me daquele vazio.
Corri pelo passeio com mais velocidade.

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