quinta-feira, 14 de julho de 2011

ALMAS DESTINDAS ~ 5º Capítulo

PORQUE RAIO TENHO 9 NÚMEROS ESCRITOS NA MÃO
9h30

Já nos encontrávamos no aeroporto. Eu, Derek, Rita Correia e Patrícia apanhámos assim um táxi, rumo ao hotel, onde iríamos ficar hospedados. Tivemos que nos separar, pois os equipamentos das minhas amigas não se ficavam apenas por uma pequena arrumação na bagageira. Portanto, como Patrícia levava mais coisas, foi no táxi com Derek, que era o que levava apenas uma mala às costas; eu e Rita Correia fomos noutro. Não podia mentir, estava nervosa com a entrevista, pois era a primeira vez que iria fazer uma entrevista deste calibre.
- Estás ansiosa, Marisca? – inquiriu Rita.
- Um pouco…
- Não estejas. Vais ver que vai tudo correr sobre rodas.
- Sobre rodas?
– ri-me. – Nem por isso, Ritita. Vais ser mais do género: sobre a relva fresca do Estádio do Dragão. – o seu riso juntou-se ao meu.
- Báh! Estádio do Dragão! Ainda se fosse no da Luz. – comentou ela, aborrecida.
- Hey-hey! Imparcialidade, menina Rita! Imparcialidade!
- Tens razão
.
As estradas ainda estavam com algum tráfego.
- O Radamel… é giro. – disse ela.
- Hum… mas isso não é importante para a entrevista.
- Quem te disse que não? Preciso de uma cara bonita que não assuste a minha máquina fotográfica!
Dei uma gargalhada.
- Pronto, talvez dê jeito.
- Claro que sim! Especialmente a ti. Tu é que vais ter de estar sempre a olhar para ele, tipo como tu fazes aquelas caras persuasivas para todos te dizerem as respostas que pretendes.
- Caras persuasivas?! Credo, Rita! Isso quase que parece feitiçaria.
- Mas a sério! Tu fazes esse tipo de expressão facial.
- Okay… se tu o dizes…
Finalmente chegámos ao Hotel, onde Patrícia e Derek já se encontravam à nossa espera.
Fiquei num quarto com Derek, o que já não me era estranho, visto que partilho a minha casa com ele.
Patrícia e Rita foram para o seu quarto, seguido do nosso, preparar os equipamentos para a entrevista que se irá realizar daqui a pouco tempo. Os meus nervos começavam a aumentar cada vez mais, por isso agarrei no meu telemóvel e procurei The Edge of Glory de Lady Gaga, música que eu amava do fundo do coração e que por incrível que pareça, fazia desaparecer todos os meus medos e ânsias, e dava lugar a uma auto-confiança reforçada. Deixei Derek na sala e fui para o quarto, a fim de mudar de roupa.
Tirei a minha simples t-shirt branca, ficando só em sutiã e calças de ganga pretas. Abri a minha mala de viagem à procura das peças de roupa que escolhi para a entrevista: uma blusinha muito fininha de manga comprida preta e por cima, uma túnica com decote em V de cor azul. Peguei na blusa preta, quando Derek entra de rompante no quarto sem bater à porta. Virei-me para ele assustada com o repentino movimento.
Só depois me lembrei que estava em sutiã! Cobri o meu peito com as mãos e os braços.
- PODIAS TER BATIDO Á PORTA, NÃO?! – berrei-lhe.
Olhei para os seus grandes olhos azuis a fitarem, como que obcecados, a minha pequena tatuagem que rodeava todo o meu umbigo com a palavra karma. Por momentos, a minha mente cantarolou a música Behind Blue Eyes de Limp Bizkit, devido aos olhos de Derek.
- SAI! – ordeno-lhe.
Depois, Derek abana a cabeça como que a colocar as ideias no lugar e abandona o quarto sem dizer uma única palavra. Parvo do rapaz, páh!
Vesti-me e de seguida, dirigi-me ao espelho da casa-de-banho, onde domei o meu cabelo. Com a ajuda de um bom gel que quase parece que não foi utilizado, arrebitei as pontas do meu cabelo que me chegava um pouco abaixo das orelhas. Penteei a franja com o gel e estava pronta. Peguei na minha mala que continha o importante guião da entrevista e dirigi-me à sala… ou melhor à porta do quarto onde fiquei hospedada, o que fez com que Derek desse um pulo do sofá e se junta-se a mim.
- Onde pensas que vais?
- Vou contigo. Ao Estádio. Para a entrevista.
- Tu por acaso chamas-te Mariza Albuquerque, ou Rita Correia, ou Patrícia Damas ou até mesmo Radamel Falcão?
Derek revirou os olhos: - Não…
- Então, não fazes parte da lista de pessoas que pode entrar no recinto do estádio para a entrevista.
- Mas, assim… que vou eu fazer?
- Sei lá! Isso a mim não me importa! Só tens de estar aqui à uma hora da tarde. Isto é, se quiseres almoçar connosco.
- Okay, não te preocupes.
- Mas eu não estou nada preocupada, muito menos contigo. Xau!
– e sai, encontrando as minhas amigas à minha espera no corredor.
- Ouvimos os gritos! – exclamaram elas ao mesmo tempo.
- Gritos? Falei assim tão alto?
- Sim! O que se passou?
– questionou Patrícia.
- Passou-se Derek Hamilton. – gracejei. – Vá, vamos ao que interessa.
(11 horas)
As primeiras perguntas iriam ser feitas no banco dos jogadores do Porto.
Patrícia já tinha a câmara pronta e Rita Correia já estava a postos. Apenas esperávamos por Radamel que estava a ser maquilhado nos balneários. Subitamente, vimo-lo sair dos balneários e aproxima-se de nós.
Mira-me de alto a baixo e sorri. Estendo-lhe a mão.
- Chamo-me Mariza Albuquerque e sou a jornalista e elas são: Patrícia Damas, na câmara e Rita Correia, fotografa.
Radamel aperta-me a mão, delicadamente.
- Un placer. – disse sem nunca desviar os seus olhos pretos dos meus.
A sua beleza exótica cativou-me o olhar que ansiava por detalhar mais o seu rosto.
Fiz-lhe sinal para os bancos, onde ele se dirigiu se imediato. Esses derradeiros segundos ocupados com o caminhar até onde lhe pedi, foram os suficientes para eu olhar um pouco mais para ele sem ser descoberta por estar a corar de modo bizarro. Ele vestia um casaco preto com umas risquinhas amarelas nos ombros, mas cedo o despiu, ficando apenas com uma t-shirt cinzenta e com as calças de ganga escuras.
O seu cabelo tinha uma cor tão negra e brilhante que me fazia lembrar as penas de um corvo.
Os seus olhos, também eles negros, faziam envergonhar qualquer noite escura, pois aquela cor até superava a negrura de uma alma puramente gótica. Os seus lábios eram carnudos e num suave tom rosa pálido. O rosto era longo e bem delineado. Reparei na sua pequeníssima pêra, mesmo por baixo do seu lábio inferior, que quase me hipnotizava. Voltei à realidade, quando comecei a ouvir os flashes da máquina fotográfica que incidiam em Radamel.
- Bom, podemos então começar a entrevista. – disse com a voz calma que contrastava com os fortes batimentos do meu coração, não sabendo distinguir se estes vibravam fortemente por causa daquela beleza exótica ou pelo meu estado de nervos.
- Quando quiseres, Mariza. – indicou Patrícia mal ouvi o clique da sua câmara.
E assim iniciei o meu longo questionário, com perguntas como:
Qual foi a primeira coisa que sentiu ao pisar o relvado deste Estádio?
Adaptou-se facilmente ao Futebol Europeu?
Como foi trabalhar com André Villas-Boas?
O que acha da sua equipa?
O que é que acontece nos Balneários?
(esta, perguntei com um sorriso travesso e Radamel deu uma gargalhada).
Como se sentiu quando foi chamado à selecção do seu país? Qual é a sensação de representar o seu país?
Sentiu carinho pelos adeptos portistas?
Estar no FCP fá-lo feliz?
Não quer sair do clube? E se André Villas-Boas o quiser no Chelsea?
Entre outras. Ele foi sempre muito simpático, respondendo a tudo o que lhe perguntei sem constrangimentos com a sua voz calma e querida. Quando a entrevista acabou, procurei o meu telemóvel para ouvir uma música qualquer, apenas para descontrair. Escolhi uma música mesmo ao acaso, nem olhando para o ecrã… o que depois, ao ouvir as primeiras notas da música, contribuiu para o meu arrependimento e para as minhas bochechitas começarem a avermelhar.
Rita Correia pediu para nos tirar umas últimas fotos ao som de A Máquina dos Amor Electro.
Assim o fizemos. Quando lhe apertei a mão para nos despedirmos ao agradecer mais uma vez a sua disponibilidade para a entrevista, ele não me quis largar a mão. Aliás, a minha mão direita ficou presa entre as dele, quentes e morenas, guardando-as com segurança. De seguida, tirou uma caneta grossa do bolso das calças, virou a palma da minha mão já um pouco acalorada e até suada com o seu toque e escreveu algo que eu não conseguia ver, porque algumas mechas do seu cabelo estavam debruçadas sobre ela. Ele levantou a cabeça, esboçou um largo sorriso e deixou-me fitar a minha mão.
Olhei. Voltei a olhar. Olhei mais uma vez. E olhei, novamente. Ergui a cabeça para ele e este, não pronunciou uma única palavra; apenas continuou a sorrir e piscou-me o olho, mordiscando o lábio inferior, ligeiramente. O sangue corria forte e veloz nas minhas veias que pareciam não aguentar a adrenalina que ele me despertava no corpo.
Radamel Falcão deixou-nos no Estádio e dirigiu-se aos balneários com um passo confiante.
Segui-o com o olhar e depois, mirei mais uma vez a palma da minha mão.
Porque raio tinha 9 números escritos na palma da minha mão?!
O meu cérebro estava totalmente lento! Só depois percebi que aqueles números eram o seu número de telemóvel. Ai jesusa! E o que é que isso poderia significar?...
Fiz um dos meus sorrisos parvos… mas um especial… um sorriso de paixoneta… e este tipo de sorriso já não assombrava os meus lábios e coração há algum tempo… desde… desde que a minha mãe ficou doente e partiu com o meu pai para Nova Iorque, esperançosos de encontrar a cura…
A minha linda mãe, outrora modelo fotográfico… e o meu talentoso pai, fotografo…
Sinto saudades!...

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